*Eugênio Maria Gomes
A pandemia do Covid-19 nos trouxe muita dor e, como acontece sempre que passamos por grandes sofrimentos, trouxe também alguns aprendizados. Um deles, sem dúvida, foi o de nos mostrar que, por mais que seja bom e necessário o calor humano, o contato, é possível sim nos comunicarmos através de mensagens de texto, de áudios e vídeos.
Antes da pandemia, tudo o que queríamos era nos livrarmos, o máximo possível, desses contatos digitais. É que a coisa estava tão complicada, que às vezes as pessoas conversavam pela internet, estando na mesma casa. Surgiram, inclusive, muitos “memes”, mostrando as pessoas trocando mensagens na mesma mesa de jantar. Estávamos todos intoxicados pela internet e pelo uso excessivo, principalmente, do aparelho celular. De repente veio o coronavírus, nos levando ao distanciamento social e determinou que nos virássemos para falarmos uns com os outros. Claro, foi muito fácil, bastava aceitar novamente a presença da internet em nossas vidas, só que, desta vez, como protagonista mesmo nos relacionamentos.
Para se ter uma ideia, apenas no Brasil o número de usuários da internet atingiu o patamar de 150 milhões. Especialistas afirmam que, em todo o mundo, 73% das pessoas aumentaram a utilização das redes sociais. O WhatsApp foi uma delas, trazendo consigo a criação dos famosos “Grupos de WhatsApp”. Grupos de familiares, de trabalho, de companheiros de grupos de serviço, de maçons, de oração, de torcedores etc. Grupos de problemas! Grupos que tiveram de passar por divisões, outros foram extintos e, muitos, sequer são abertos por alguns de seus participantes, tal a quantidade de mensagens recebidas.
Além disso, outros problemas começaram a ocorrer: a má utilização e a falta de empatia nos tais grupos, por parte de alguns participantes. Quando se cria um grupo, por exemplo, para um candidato, para um time de futebol, é claro que ali todos irão falar desses assuntos, falar bem dos que eles defendem e malhar os adversários. Também é verdade que, nesses grupos, sequer devem existir participantes que tenham opinião contrária. No entanto, quando se cria um grupo de trabalho, de companheiros de grupos de serviços ou de maçons, por exemplo, o mínimo que se espera de cada participante é que ele se contenha em suas postagens, porque não faz o menor sentido criar mal-estar em um grupo desses, onde a base que supostamente o sustenta são conceitos como harmonia, respeito, amizade, companheirismo etc.
O que chama a atenção é que, quando você observa o estatuto, a carta constitutiva ou o regulamento dessas entidades, você vai encontrar lá proibições para que seus membros discutam questões de natureza religiosa, política e outras; em algumas dessas instituições o regulamento é taxativo ao definir o companheirismo como base do relacionamento entre os membros, a despeito de suas crenças, ideologias e etnias; e em outras, são estabelecidos como princípios magnos de convivência a Liberdade, a Igualdade e a Fraternidade. Ainda assim, alguns participantes passam os dias fazendo postagens contra ou a favor de Bolsonaro, de Lula, de Ciro, se esquecendo que na outra ponta da comunicação existe um leitor – seu companheiro, colega de serviço, irmão de sangue ou de Ordem -, que não está interessado nesse tipo de assunto.
Isso se chama “Empatia Digital”, já que o princípio de criação do grupo não é o de discutir esse ou aquele assunto que pode desagregar, em vez de unificar. Os integrantes dos grupos de WhatsApp devem se restringir àqueles assuntos que os unem, e não aos que os separam!
Há quem diga que, por isso mesmo, foram criados os tais “grupos resenha”. Mesmo nesses grupos, determinados assuntos não deveriam ser evitados? Não? Então, como a participação neles não é obrigatória, resta aos incomodados se retirarem. Quando isso acontece, com certeza, todo mundo perde um pouco.
Infelizmente, nem mesmo os grupos de oração costumam ser respeitados. Imagine a contradição nessa questão, já que as pessoas se reúnem para rezar, para compartilhar a fé, a temperança, a paz e alguns se perdem em postagens que causam mal-estar, dissabores, por conta de ideologias e pensamentos de vida diversos.
A pandemia está terminando e, daqui a pouco, será hora de começarmos a reduzir novamente a utilização da internet para a comunicação, deixando fluir, nesse meio, apenas aquilo que nos interessa e nos faz bem.
*Eugênio Maria Gomes é professor e escritor.