Ildecir A.Lessa
Advogado
Vivemos a Era do Desassossego, devido as turbulências dos acontecimentos de todos os dias. Isso não nos deixa muito tranquilos. Não faltam notícias desagradáveis para isso. Poderíamos começar pelo desassossego na política no Brasil. Não é fácil definir com exatidão em que consiste o desassossego da política no Brasil, senão dizer que: é um desalento de se praticar, uma incompetência diante dos fatos que não cessam de acontecer, no meio de um mundo político em desconstrução.
À medida que os fatos avançam, sentimos que essa extenuação política, desvanece, converte em desalento, que os protagonistas políticos estão atormentados. Às vezes o tormento vivido pelos políticos, se transforma em desatinos tais, que eles se esquecem de que foram eleitos, para servir a República do Brasil, mais especificamente, o povo.
O vocábulo “desassossego” fermenta e torna-se vastíssimo, tão vasto que é impossível encerrá-lo numa definição de dicionário. Até que começa a surgir um conceito, um sinal, um índice que o conota precisamente como desalento e, sobretudo, como incompetência, fomentando uma verdadeira letargia. Os políticos só não sabem que, carregam uma enorme incompetência em relação a tudo que os rodeiam e, acima de tudo, o mandato representativo. E essa incompetência vivida no mundo político, tem semelhança de uma doença, que num dado momento ela pode provocar a morte política. O político, hoje, sente estrangeiro em toda e qualquer parte por onde passa. Nos locais públicos, não são bem vindos, até nos restaurantes as pessoas estão levantando e saindo quando entra um político. Eles vivem prisioneiros na Câmara dos Deputados, Senado, no Planalto e nos Ministérios em Brasília.
Naturalmente o desassossego, assim como a angústia existencial, assume diferentes feições em cada político em si. E razões não faltam. Porque, além de tudo o que continua a acontecer, tudo já aconteceu – e de uma maneira tão clara: criou-se o Império da Corrupção, verdadeiros castelos fortes, que são duros de derrubar O clima de desassossego, começou recentemente, quando foi divulgada a lista dos investigados, envolvendo mais de um terço do Senado e perto de 10% da Câmara. São 24 senadores e 39 deputados investigados. Somem-se aí oito ministros do governo Temer e ainda três governadores. É muita gente graúda. E ninguém sequer pode cantar de galo, por que a lista desmoraliza mais ainda a classe política brasileira como um todo – à direita e à esquerda; no norte e no sul; do partido A ao Z; no governo e na oposição. A reação foi de uma desconcertante tranquilidade, disfarçando o rebuliço real. De certa forma, todo mundo já esperava por essa lista. Daí, todo mundo já tinha se preparado para o momento crítico, com explicações protocolares que desqualificam as delações dos executivos da Odebrecht e da JBS. O tom reacionário é de acusação de “vazamentos seletivos”, sem maiores questionamentos sobre o conteúdo. Outros pediram que fosse quebrado o sigilo das delações. Foi quebrado o sigilo, e instaurou a Era do Desassossego. Com a situação trazida às claras, com vídeos, gravações, malas de dinheiro trançando e, diante de tanta gente com a espada da Justiça pendendo sobre a cabeça, as reformas em pauta podem esperar. Fica em xeque o futuro da reforma da Previdência, assim como a reforma trabalhista. O que pode mudar mesmo é o ritmo (e o conteúdo) da reforma política. Desse quadro pode sair na forma de maquinações que protejam o mundo político agora em sobressalto do desassossego.
O certo é que, com tantas estrelas da política envolvidas em denúncias tão graves, uma conclusão é óbvia: o sistema político está condenado e, o Império da Corrupção será derrubado, mesmo com as resistências existentes, como forma de proteção dos envolvidos. É de se indagar como explicar que tantos políticos estejam envolvidos no mesmo tipo de esquema? Como explicar que partidos tão distintos recorram a esse expediente nada republicano? Daí volta a discussão sobre uma reforma política profunda. Mas cabe a pergunta: quem fará essa reforma? Exatamente esses políticos envolvidos nesses expedientes? Terão legitimidade? Mais: terão interesse em fazer uma mudança real? Nisso tudo fica outro questionamento: o país ainda aguenta a manutenção desse sistema por quanto tempo? Na verdade, vive-se a Era do Desassossego e, esse momento está presente no mundo político, enquanto que o Brasil pela sua gente determinada procura cumprir com seus compromissos de cidadão.