Walber Gonçalves de Souza
Há um pensamento que também intitula um livro, dito pelo escritor Hamilton Werneck que resume muito bem o que vem sendo a educação brasileira durante os últimos séculos: “Você finge que ensina, eu finjo que aprendo”. Nossa educação parece ser um conto de fadas, linda no enredo e triste nas entrelinhas.
A educação que temos figura entre as piores do mundo, e isto não é novidade para ninguém, por isso ela “finge que ensina”. A triste realidade é que mesmo sabendo deste terrível quadro continuamos tentando reinventar a roda. As inúmeras soluções nada resolvem. Queremos mudar a aparência, dar novas nomenclaturas para nos referirmos às mesmas coisas, modificar a forma, mas de fato a essência das coisas permanece inalterada. O que realmente deveria importar fica à deriva.
A educação que temos sempre foi excludente, pensada para manter o status quo da sociedade. Pensar de acordo com a realidade brasileira uma educação que fale a língua dos brasileiros significa uma forma politicamente correta de continuar “fingindo que ensina”. Sabemos que nossa cultura não valoriza a educação. Fazendo uma simples analogia podemos dizer que não adianta pedir ao preguiçoso que dê ritmo ao trabalho.
A educação que temos é pensada única e exclusivamente para o mercado de trabalho. Tudo gira em torno da profissão que teremos. Isto é importante? Com certeza absoluta sim. Mas ter somente este foco deixa a educação manca, pois outras dimensões humanas precisam ser despertadas, polidas e incentivadas. A arte, o esporte, a cultura e a ciência não deveriam se sobrepor, elas são igualmente importantes para a formação humana no seu sentido mais amplo.
A educação que temos tem a cara do Brasil. Extremista. Na nossa terrinha há centros de educação de qualidade, poucos, mas há. Estes servem para atender aos poucos que usufruem da nossa riqueza. Paralelamente uma enormidade de educandários que servem para perpetuar nossa realidade, mantendo-se no submundo, nas precariedades sociais.
A educação que temos é um mundo do faz de contas. Na maioria dos casos nossas escolas podem fazer de tudo, menos ensinar. Culpa dos professores? Da escola? Dos alunos? Das famílias? Dos governantes? Acredito que todos nós temos um pouco de culpa. Mas como sempre ficamos jogando a culpa uns nas costas do outros, o quadro nunca se altera. Fica mais fácil assim! E também pouco adianta este papo furado de cada um fazer a sua parte, com certeza é um bom começo, mas também não resolverá. Numa engrenagem uma peça estragada trava tudo. Cada peça que compõe a escola deve contribuir significativamente com a sua responsabilidade. Isto sim resolverá o problema. Se isto não for possível, mais uma vez ela cumprirá a sua sina, “fingindo que ensina”.
A educação que temos é a educação da modinha. Sempre estamos recomeçando. Da redemocratização até os dias atuais quantas “novidades” foram lançadas. Precisamos aprender a fazer um “arroz com feijão” bem feito. Fazer o que é preciso, o que funciona!
A educação que precisamos é uma educação que cumpra o seu papel. O papel de tornarmos pessoas melhores, o papel de colaborar para a existência de uma sociedade melhor.
Na educação que precisamos a escola deve estar voltada para o mercado de trabalho. As escolas devem formar uma mão de obra qualificada, eficaz, capaz. Mas a educação que precisamos deve se preocupar também com a formação de seres humanos melhores, e isto se faz com a valorização da arte, da cultura e do esporte.
A educação que precisamos deve conscientizar as pessoas que elas são repletas de direitos, mas na mesma proporção, de deveres. Que cada um de nós ao agirmos individualmente acabamos gerando consequências para a vida coletiva.
A educação que precisamos deve ser vista como uma mola propulsora para toda a sociedade brasileira, ela deveria ser o trampolim para o desenvolvimento de todas as pessoas que por ela passarem. A educação que “finge que ensina” não resolve nada. Haja visto que o que se afirma é que nossos indicadores educacionais estão melhorando, entretanto ao olharmos para a nossa sociedade, parece que dia após dia estamos ficando mais temerosos em convivermos.
A educação precisa ser levada a sério. Sem uma educação de qualidade, no sentido verdadeiro e pleno da expressão, nunca deixaremos de ser o que somos, um país em que se finge que ensina e que se finge que aprende.
Walber Gonçalves de Souza é professor.