Gestora escolar Ana Paula Freiberger explica como os professores tiveram que se adaptar a essa nova realidade. Ela ainda passa orientações sobre como manter os alunos atentos e fala sobre a função dos pais
CARATINGA – Em meio a uma pandemia que confinou praticamente todas pessoas em casa e criou novas dinâmicas de relações afetivas e profissionais virtuais, à distância, o ofício dos professores e educadores foi um dos que sofreu mudanças mais profundas. Tendo como instrumentos essenciais de seu trabalho o próprio corpo e a própria voz, eles agora têm como ferramentas imprescindíveis os celulares, computadores e redes sociais. Em meio à adaptação a essa nova forma de trabalho, eles enfrentam maiores responsabilidades e cobranças em suas tarefas.
Para tratar dessa nova realidade, o DIÁRIO entrevistou a gestora escola e diretora do CNEC, Ana Paula Freiberger. Ela fala como os professores devem agir para manter a atenção dos alunos. Destaca ainda o papel dos pais nesse momento. A gestora também deu dicas sobre questões envolvendo família e escola. “O que eu acredito é que não podemos ficar parados”, observa Ana Paula Freiberger.
Agora as aulas são on-line. Alguns profissionais de educação dizem que essa transformação iria acontecer daqui uns anos e que a pandemia acelerou esse processo. A senhora concorda com essa tese?
Concordo em partes. Existem segmentos (como o Ensino Médio) que acredito que acelerou o processo de implantação.
Como os professores reagiram nesse processo de migração para o ensino on-line?
No início foi difícil para todos, os profissionais da educação tiveram que se reinventar de maneira urgente, sem tempo para muito “mimimi”. Tínhamos uma nova realidade e tivemos que agir. Para muitos foi dolorido, pois tiveram que vencer barreiras tecnológicas, estruturais, comportamentais e emocionais.
Creio que o papel do gestor escolar nesse momento foi fundamental: acalmar a equipe, reconstruir a proposta pedagógica, trabalhar a união da escola e mostrar que os profissionais são capazes, mesmo diante das fragilidades.
Uma das críticas sobre o sistema de ensino on-line é a respeito da situação do Brasil, onde nem todos os alunos teriam condições de estudar em casa. A senhora acredita que essa forma on-line para esse momento foi uma medida acertada?
“O que eu acredito é que não podemos ficar parados”. É fundamental considerar as fragilidades e desigualdades sociais, precisamos usar estratégias para atender o máximo possível de crianças, jovens e adolescentes. Penso que não podemos nos acomodar somente com o que “os sistemas de ensino” então ofertando em grande escala, precisamos fazer o diferencial em nosso bairro, em nosso espaço. Cada escola precisa adaptar o ensino conforme a realidade de seus alunos.
O professor tem o contato direto com o aluno em sala de aula, desta forma é possível avaliar se há o entendimento por parte do educando. Agora como manter a atenção com as aulas on-line?
Estamos lidando com uma situação completamente nova, mas como eu falo para minha equipe, precisamos “conectar” com nossos alunos, precisamos trabalhar com intencionalidade real, esse é um dos pontos chave. Outro ponto chave que acredito é a rotina que as famílias criaram para seus filhos.
Em sua avaliação, os alunos, de modo geral, se mantêm atentos mesmo estudando em casa?
Creio que a partir do momento que eles entenderam que não era uma opção, mas sim uma necessidade, uma exigência legal, eles buscaram criar uma rotina de estudos mais consistente. Claro que, existem alunos e alunos, os ótimos alunos, os bons alunos e os que não querem nada (independente a metodologia utilizada).
Como deve ser a participação dos pais nesse momento?
O Conselho Nacional de Educação, em seu parecer que foi homologado pelo MEC, deixa bem claro que é responsabilidade dos pais organizar a rotina de estudos dos seus filhos. Independente de lei, percebo que os pais estão muito preocupados com o andamento do ano letivo, tanto a questão da aprendizagem, quanto a legalidade.
Minha sugestão é que os pais organizem a rotina dos filhos de maneira semelhante que se tivesse aula presencial (materiais, leituras, atividades, tarefas, responsabilidades…).
Sabemos que os pais continuam com sua rotina de trabalho e responsabilidades sociais e econômicas, diante disso, sempre pontuo para a equipe a necessidade de trabalhar com empatia.
Qual é sua recomendação para que o trabalho dos professores nestes dias de pandemia seja eficiente?
Conexão e empatia creio que são fundamentais para conseguirmos avançar. Infelizmente percebo muitos professores investindo seu tempo no que não é a base para a educação. “A base é a conexão, o conhecimento, é nisso que precisamos focar!”
Minha recomendação é que o gestor escolar esteja literalmente a frente do processo dando suporte para toda sua equipe, fazendo o alinhamento necessário entre famílias e escola. Os professores precisam se sentir amparados para conseguir amparar os alunos e famílias.
A senhora acredita que quando essa pandemia acabar irá haver mudança na metodologia de ensino?
Com certeza, é ingenuidade pensar que será como antes. Os profissionais da educação estão reconstruindo sua maneira de pensar, entender e agir na educação, além de conhecerem ferramentas tecnológicas incríveis e que poderão utilizar no presencial.
Quais suas considerações finais?
Sei que está difícil, que os profissionais não foram contratados para aulas on-line, ou que os pais não matricularam seus filhos para esse sistema de aulas. No entanto, NENHUM setor da sociedade estava preparado para essa pandemia. Então, está na hora de entender que esse problema não é exclusivo da educação, é um problema da sociedade, todos os setores estão precisando se reinventar de maneira urgente. Cabe a nós educadores buscarmos fazer o nosso máximo na realidade que estamos vivendo.
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10 DICAS
A gestora escola dá dicas importantes para esse momento. “Nesse período de ensino na modalidade remota, penso que tem algumas questões que devem ser consideradas entre famílias e escolas”.
1º) Antes de preocupar com a quantidade de matéria, preocupe-se se seu aluno ou filho está aprendendo;
2º) Não cobre só da outra parte, faça a sua enquanto “escola” ou enquanto “família”;
3º) Na dúvida, priorize o diálogo. Não é hora de ficar puxando “espada” para atacar o outro;
4º) Alunos e professores têm vida “além da escola”. Vamos procurar manter contato em horário escolar;
5º) Organize seu horário de estudo e trabalho, tome um banho e vista-se apropriadamente, isso recarrega sua energia;
6º) É difícil manter a concentração onde tem pessoas rindo ou “batendo talheres”. Procure estudar e/ou trabalhar em lugar tranquilo;
7º) Chegou “atrasado” na aula ou reunião, simplesmente “entre” e depois chame o responsável no privado para tirar as dúvidas do que perdeu.
8ª) Não é só você que está sendo vítima da pandemia, não pense que e as dificuldades que você está passando são exclusivas tuas;
9º) Não esqueça da palavra chave para o momento: EMPATIA!
10º) Está ansioso, nervoso, estressado? Tome um chá, de uma volta, respire fundo e lembre: Resolva seus problemas, pois enquanto não os resolver, continuarão sendo problemas!