Eugênio Maria Gomes
No primeiro dia da semana passada recebi uma mensagem no famoso aplicativo do celular: “Muito obrigado pelo convite – é claro que eu aceito ser seu amigo no Whatsapp”. Achei estranha a mensagem, já que ela vinha de um número que eu não conhecia. Olhei um pouco acima e visualizei a mensagem que eu teria enviado ao novo amigo: “Aqui é o Eugênio, me aceita aí”. Na sequência começaram a chegar respostas a vários pedidos, com formatos de “solicitações de amizade” diferentes. Ou seja, não parecia vírus, parecia mais um clone, alguém usando uma conta análoga à minha. Na dúvida, enviei mensagens aos amigos e desinstalei o aplicativo. Ainda estou sem usá-lo, e é sobre isso, que eu quero discorrer neste texto.
Este período sem utilizar o aplicativo me tem levado ao pior e ao melhor dos mundos no que tange à comunicação com as pessoas. Acompanhe comigo:
- Deixei de falar com várias pessoas, através de mensagens, na primeira noite em que deixei de usar o aplicativo.
- Não ouvi áudios, não respondi aos vários “boa noite” e não pré-agendei alguns compromissos para a segunda-feira, como de costume.
- Não dei boa noite, por mensagem, aos meus filhos, nem ouvi o áudio da minha neta dizendo “vovô, eu te amo”.
- Por conta de não usar o aplicativo, logo na primeira noite fiquei meio “sem ter o que fazer”, e pude assistir ao noticiário, completo, sobre o que anda ocorrendo no Brasil e no mundo, pela TV.
- Pela manhã, assim que acordei, não fui correndo pegar o celular e conferir as mensagens recebidas; fiz o meu café com calma, aparei a barba e, ainda, tive tempo de ler algumas páginas de uma revista, de circulação nacional, que há muito vinha recebendo e, sequer, tirava do plástico;
- No primeiro dia, saí de casa antes do horário de costume e tentei fazer uma rápida visita à D. Euza, lá no Limoeiro, que recentemente perdeu o marido e nosso amigo, Zequinha. Infelizmente ela não estava à vista e fiquei com medo de incomodar.
- Recebi o telefonema de um Irmão da Maçonaria, residente em Governador Valadares, com o qual converso sobre Educação, Maçonaria e Política, sem nunca tê-lo visto ou falado com ele, por outro meio, que não fosse o aplicativo. Nesse dia ele precisava de uma informação urgente e falamos, pela primeira vez, ao telefone.
- Assim que cheguei ao trabalho fui abordado pela minha filha, com um abraço, já que não tinha podido me dar bom dia, via ..
- Falei com a minha filha Clara, por telefone, na hora do almoço. Como não tem jeito de enviar aqueles corações por voz, falei eu te amo e recebi o “eu te amo também, dad”.
- Consegui tempo para fazer um artigo e iniciar um livro que está no “prelo” faz tempo…
E, assim, se desenvolveu a semana, fazendo coisas que, há tempos, esperavam uma oportunidade para acontecer, por conta da “atribulada” agenda imposta pelo aplicativo e pelo trabalho. Como sempre faço, mesmo com whatsapp, ministrei aulas, gravei programas, participei de reuniões, despachei documentos, atendi a agenda, resolvi questões diversas no trabalho, fiz uma palestra, escrevi artigos para o jornal, atualizei informações no site, visitei meus netos e, ainda, consegui: arrumar as gavetas de gravata, meias e cueca; separei roupas que não usava mais, para doação; engraxei, eu mesmo, três pares de sapatos; limpei arquivos do computador e desfragmentei o disco; zerei a área de trabalho do computador e guardei os arquivos importantes em um HD; organizei o escritório de casa e ordenei os livros na biblioteca; fiz o prefácio da bela obra “Janelas da Vida”, de autoria do Sr. Josephino Gonçalves, com lançamento marcado para breve; consegui tempo para visitar minhas tias e a D. Euza; caminhei no final de alguns dias e no começo de outros…
É claro que, essa experiência, é minha. Muitos conseguiriam fazer tudo isto usando, normalmente, o whatsapp. No meu caso, ficou claro, que o aplicativo estava atrapalhando algumas ações importantes na minha vida. Ficarei sem o whatsapp? Provavelmente não. Mas será preciso fazer o seu uso com parcimônia. Ficou claro para mim que o aplicativo tem me aproximado de pessoas e coisas que andavam muito distantes, difíceis de serem levadas a termo, como falar com um parente ou um amigo que andava sumido ou que reside em outro estado ou até em outro país. No entanto, também ficou claro nesta minha experiência sem o aplicativo, que ele estava me afastando de coisas simples, do contato de pessoas próximas, as quais eu não abraçava há muito tempo.
E você, como tem sido a sua experiência com o whatsapp? Você tem visto e conversado com os seus amigos, fora do aplicativo? Tem almoçado com familiares, visitado um parente ou dado um abraço, ao vivo e em cores, naqueles mais próximos?
A experiência sem o whatsapp tem sido muito difícil, complicada mesmo. Por outro lado, tem-me permitido viver mais intensamente alguns momentos, especiais. Preciso dos dois. Aqui, cabe a velha sabedoria dos Romanos “A virtude está no meio” – in medio virtus! Tudo na Natureza caminha em direção ao equilíbrio, e os excessos, de qualquer espécie, rompem esse equilíbrio e causam sofrimento a nós e aos outros!
Haverei, de aprender a conciliar a necessidade que a moderna sociedade nos impõe de utilização das novas tecnologias de comunicação, com a necessidade humana do toque físico, de ouvir a voz, de sentir os odores e de realizar outras atividades que nos proporcionam prazer, alegria e que dão verdadeiro sentido à nossa vida e ao no nosso dia a dia.
Afinal, entre a dor e o prazer de usar o whatsapp há de existir um meio termo, que favoreça e facilite a comunicação, mas não me impeça de vivenciar todas as experiências, tarefas e prazeres que completam e dão sentido à minha existência.
Não é possível renunciarmos integralmente ao uso da Tecnologia. É como o vento! Não podemos mudar sua direção. Mas podemos sempre ajustar as velas do barco da Vida, para alcançarmos o nosso objetivo maior que é a Felicidade!
Eugênio Maria Gomes é diretor da UNEC TV, professor e pró-reitor de Administração do Unec – Centro Universitário de Caratinga. Membro da Assembleia da Funec – Fundação Educacional de Caratinga, do Lions Itaúna, do MAC- Movimento Amigos de Caratinga, da Loja Maçônica Obreiros de Caratinga e das Academias de Letras de Caratinga e Teófilo Otoni. É o Secretário de Educação e Cultura do GOB-MG.