José Evaristo de Mateus, o ‘Baleiro’, ganha a vida vendendo balas e fazendo amizades
CARATINGA – Toda cidade tem seus personagens. Muitos deles são aquelas pessoas simples e que por exercer alguma profissão ou ter feito algo fora do normal tornam-se conhecidas. E Caratinga tem no rol desses personagens uma pessoa que pode ser vista de segunda a sábado na Avenida Moacyr de Mattos, já que domingo é dia de descanso, trata-se de José Evaristo de Mateus, mais conhecido como ‘Baleiro’.
Quando o DIÁRIO resolveu entrevistá-lo, Baleiro estranhou o convite. “Mas eu nunca fiz nada que chamasse atenção”, foi sua resposta. Passados alguns dias, ele perguntou se iria ser filmada a reportagem. “É que eu não falo muito bem”, brincou. Ao saber que seria redigido, Baleiro agendou o dia e brincou novamente. “Vou cortar o cabelo e assim fico mais apresentável”.
E durante a entrevista é possível ver o carisma de Baleiro. A todo o instante passa uma pessoa, seja criança ou idoso, homem ou mulher, e o cumprimenta, “oi Baleiro, depois eu passo pra gente conversar”, dizem alguns. Mas a maioria para e compra uma balinha para adoçar a vida. Quando o freguês é conhecido, Baleiro ainda brinca, “vou te indicar essa bala de erva-cidreira. Você tá nervoso com o nosso Cruzeiro. Essa bala vai te acalmar”, recomenda Baleiro a um freguês que é cruzeirense, assim como ele.
Quanto a sua idade, ele prefere não revelar. “Deixa isso pra lá”, diz sorrindo. Mas ele conta que começou a trabalhar muito cedo. Se hoje ele vive a doce vida, antes experimentou o ‘lado salgado da vida’. “Comecei quando era menino. Vendia salgadinhos para minha tia. Ficava na Rio-Bahia (BR-116). Naquela época tinha parada de ônibus lá e tinha um bom movimento. Depois acabaram com as paradas de ônibus e fui trabalhar em frente à antiga Casa Ribeiro. Aí mudei de ramo e passei a vender doces e balas”.
REFERÊNCIA NA MOACYR DE MATTOS
E a Avenida Moacyr de Mattos parece ser a segunda casa de Baleiro e ele é uma referência do lugar. Baleiro trabalha nesta região de Caratinga há 34 anos. “Estou aqui desde que essa avenida se chamava São José. Como falei anteriormente, antes ficava na porta da Casa Ribeiro. Agora têm uns oito anos que estou aqui na feirinha. O Raphael Ribeiro me deixou trabalhar aqui”, agradece, complementando que essa autorização lhe livrou do aluguel. “Aluguel hoje está muito caro e alugar um lugar pra vender balas não compensa”, justifica.
E o carrinho usado por Baleiro chama atenção da freguesia. Todo organizado e com as balas e doces estrategicamente colocados, atrai a todos, principalmente as crianças, que chegam a arregalar os olhos diante de tanta variedade. “Acho que você vai gostar dessa bala de caramelo”, indica Baleiro e sua sugestão é prontamente atendida. “Mãe, a bala é boa mesmo, compra mais”, diz o menino após experimentar e aprovar a sugestão feita por Baleiro.
E à procura de balas sempre surge alguém que ingeriu bebida alcoólica. “Baleiro, me vê uma de hortelã. Minha mulher mata se chegar com esse bafo de cachaça em casa”, pede um freguês, que é prontamente atendido. “Rapaz, eu já bebi, mas isso não compensa”, orienta Baleiro.
Crise é a palavra da moda, mas essa palavra não consta no vocabulário de Baleiro. “Digo que hoje o comércio está melhor, pelo menos neste ramo que eu trabalho. Agora não dependo apenas do movimento das escolas, as pessoas que passam pela avenida já me procuram. Compram uma bala e param para bater papo”, disse, mas falando que teve que se adaptar ao longo dos anos. “Vendo cigarros, vendo isqueiros. Isso chama atenção. O freguês que compra cigarro acaba comprando bala”, ensina.
Sobre fidelizar a clientela, Baleiro tem uma receita simples. “É só tratar bem as pessoas. Sempre volta quem é tratado bem”.
Ele não revela o quanto ganha, apenas diz que ganha o suficiente para ter uma vida digna. “Sempre pinga algum dinheiro (risos)”, conta.
Solteiro, sem filhos, Baleiro tira os domingos para descansar. “Bom ficar em casa. O legal do domingo é que a gente pode ver um futebolzinho, embora o Cruzeiro não ande lá essas coisas. Viu aquele jogo contra o Joinville (referindo a derrota de 3 a 0 sofrida pelo time mineiro na última quinta-feira (13)). Isso não pode acontecer”, reclama Baleiro, mostrando sua veia cruzeirense.
Sobre futebol, ele lembra que jogava durante sua juventude. Ele até organizava partidas. “Era lateral direito, mas jogava no cascudo. Era difícil jogar no titular”, sorri mais uma vez. Perguntado ser era um lateral que batia muito, Baleiro brinca ao responder. “Só jogava na bola (risos). Mas acho que era um bom marcador”.
Ao final da entrevista, Baleiro pergunta quando será publicada e agradece pela atenção. “Obrigado, vou aparecer no jornal e ficar importante”, analisa em meio aos sorrisos.
E a vida de José Evaristo de Mateus segue doce, como as balas que são vendidas por ele.