Frequentemente vimos nos noticiários a prisão de infratores, sejam eles maiores ou menores, por crimes como furtos e assaltos à mão armada. Quase que na sua totalidade o discurso é o mesmo: “roubei para saciar o vício” Semana passada vimos a prisão de um jovem senhor que poucos dias após a sua saída do presídio, em liberdade condicional, voltou a praticar o mesmo delito. Visivelmente abatido, arrependido, angustiado, se disse uma vítima do crack. Se para os apenados que não são viciados em drogas cumprir sua dívida com a sociedade já é uma verdadeira roleta russa, imagine um viciado em crack? O risco de contrair doenças como tuberculose, AIDS, sífilis, hanseníase é frequente. Já os viciados em crack agonizam e padecem seus pecados pela falta da droga e têm crises frequentes de abstinência num sofrimento terrível.
Este senhor, que foi novamente preso em flagrante delito, cumprirá sua pena e quando voltar ao convívio social não terá alternativa se não a de voltar a delinquir porque está escravo do vício. Ele não precisa de presídio, nem de grades. Precisa de tratamento eficiente que o liberte do maléfico efeito das drogas e só curado poderá pensar em se reencontrar com a sociedade, trabalhar, conviver em família, ser alguém. Como um viciado normal consegue raciocinar? Imagine preso.
No Rio de Janeiro, no presídio de Bangu 3, relatos aterrorizantes são vivenciados por agentes que presenciam presos desesperados batendo a cabeça na parede e nas grades, trêmulos, em crise de abstinência, desesperados. Os outros detentos, irritados com a “loucura” momentânea, agridem violentamente o detento para que ele se aquiete e para que possam dormir. Outros, em estado emocional “terminal”, chegam a confessar crimes que não cometeram em troca de uma pedra de crack. O purgatório, com certeza, poderíamos chamar de hotel de luxo diante do flagelo do ser humano.
Somente casos de extrema gravidade são tratados no centro de dependência química do presídio Bangu 3, onde recebem medicação paliativa e ineficaz e são levados de novo ao inferno. Uma rotina insana, desumana, cruel e, acima de tudo, de perplexidade pela omissão do Estado e a triste constatação do aumento da violência e de crimes contra o patrimônio em decorrência do vício das drogas.
Nosso Estado é tão eficiente na elaboração e aumento sucessivo de tributos, e ineficiente na condução de um problema crônico que tem atingido índices alarmantes. Pela droga se rouba, se prostitui, se mata, porque a mente não tem mais domínio sobre o corpo. Os reflexos raros de consciência permitem clamar por ajuda como vimos semana passada em nossa cidade. No mais é só êxtase, alucinações, delírios e uma vida louca turbinada que convive lado a lado com a morte numa trajetória previsível: cadeia ou cemitério. Não precisamos apenas de presídios com instalações dignas, precisamos de centros de ressocialização muito bem equipados para que o preso possa ser tratado com psicólogos, médicos, psiquiatras, monitores, medicamentos, apoio familiar e, após ser curado, possa se sentir seguro para voltar ao meio social e equilibrado emocionalmente para retomar o caminho do bem, da felicidade, da vontade de viver. Ou o poder público se mova a tempo ou em breve não poderemos mais nem sair às ruas porque será uma atitude de risco porque seremos vítimas de pessoas em ataque de fúria totalmente desnorteados na busca de uma simples pedra de crack. E por ela, se necessário morrerá ou matará a bem do seu organismo dominado pelo nefasto vício. A violência alarmante nos avisa que é preciso fazer algo urgente em prol da vida.
Álvaro Celso Mendes
Graduando em Direito/FIC
Caratinga