Atualmente mesmo com um consenso de 99,97% dos cientistas sobre a existência das mudanças no clima, juntamente aos altos investimentos científicos para identificar os efeitos possíveis das mudanças no clima no nosso dia a dia, existem pessoas que duvidam que nosso clima esteja mudando com o passar dos anos. Essas pessoas que não acreditam que o homem é o responsável por essas mudanças são conhecidas como negacionistas e/ou céticos do clima. Para tais pessoas o Sol, juntamente com outras variáveis externas, é o principal responsável por tais mudanças.
O Sol é a principal estrela do nosso Sistema Solar, é a fonte de energia que move todos os processos entre a superfície e a atmosfera do nosso planeta. Ao falar da atmosfera, essa fina camada composta de gases, como o dióxido de carbono, o oxigênio, o nitrogênio e o vapor d‘água, é responsável por criar condições favoráveis para o desenvolvimento da vida que se desenvolveu na história do nosso planeta. Sem essas condições, conhecida como efeito estufa natural, seria impossível o desenvolvimento da vida no nosso planeta Terra, pois as temperaturas médias na superfície seriam próximas a – 15°C.
Pois bem, como o Sol possui uma grande importância na provisão de energia para o nosso planeta, os negacionistas do clima descrevem que nossas atitudes diárias não possuem potencial de mudar o clima quando comparado ao Sol.
Acredito que o Sol é, de fato, a nossa força motriz e sua energia flui das plantas para alguns animais até chegar a nós, através da nossa alimentação.
Acredito, também, que o Sol tem o poder de ditar as mudanças do nosso clima, pois ele tem ciclos de com intervalo de 11 anos em sua atividade, conhecidos como períodos de máximos e mínimos. Nos períodos de máximos, pode-se notar a existência de manchas na superfície do Sol e a energia que ele libera e chega até nós é ligeiramente maior do que nos mínimos, algo da ordem de pouco mais de 0,1% acima da média. Nos mínimos é evidenciado o processo contrário dos máximos e, assim, é observado uma menor liberação de energia.
De forma prática temos que: a insolação média sobre a Terra é 342 W/m2 (watts por metro quadrado). Como nosso planeta reflete 31% da radiação solar que aqui chega, ficamos com 235 W/m2.
Atualmente vivemos num mínimo solar e alguns negacionistas estão vinculando que podemos passar por uma “mini era do gelo”. Ou seja, por um período em que a influencia do Sol, enviando menos energia, resultaria numa onda de baixas temperaturas em escala global. Entretanto, uma variação de 0,1% em cima dos 235 W/m2 que chegam à nossa superfície, que nos dá uma perda de pouco mais de 0,23 W/m2, não parece ser tão expressivo assim.
O que tais pessoas não entendem é que devido a nossa falta de consciência com o meio ambiente e com as gerações futuras, nós estamos utilizando a nossa atmosfera como descarga das nossas atividades diárias que na sua maioria funcionam em função dos combustíveis fósseis. Desta forma, devido o fato de termos hoje 400 ppm de CO2, em relação aos 280 ppm do início da Revolução Industrial – meados do século XIX, isso implica numa retenção de calor a uma taxa de 2,3 W/m2, cerca de 10 vezes mais que a perda que os negacionistas do clima estimam para a “mini era do gelo”. E pior, como continuamos a acumular 2 ppm de CO2 ou mais a cada ano, em apenas uma década, esse efeito compensatório de 10% desapareceria e, a partir daí, estaríamos ainda piores do que na entrada desse suposto mínimo de atividade solar prolongado.
A Nature, a mais renomada revista científica e que possui um periódico sobre a temática em questão Nature Climate Change, diz que o efeito deste mínimo solar “é pequeno, comparado com as mudanças no clima previsto para o futuro” e que “sem esforços para a redução dos efeitos das mudanças no clima, os invernos do Hemisfério Norte ficarão provavelmente 6°C mais quente mesmo com um mínimo solar que perdure até o fim do século”.
O importante neste momento é adquirir conhecimento sobre o assunto e entender que as mudanças no clima já fazem parte da nossa realidade e que sempre existirão negacionistas do clima, mesmo que a cada ano seja cada vez mais difícil não acreditar que nós somos capazes de mudar o mundo e o clima também.
Paulo Batista Araújo Filho é formado em Ciências Biológicas e Recursos Naturais pela UFES. Atualmente trabalha no renomado Lawrence Berkeley National Laboratory (LBNL), Berkeley – Califórnia/EUA