* Pedro Carlos Santos Junior
Todos já estão sentindo de perto os feitos da crise econômica, crise esta que para muitos só foi percebida agora, mas que já era anunciada desde o início de 2014. Segundo a teoria econômica, dois semestres seguidos de queda na atividade econômica indicam, tecnicamente, uma recessão e tal situação já se apresentara no primeiro semestre de 2014 e o governo federal, em ano de eleição, não tomou as medidas adequadas para combater o quadro que se apresentava. Assim, o governo ignorou a situação recessiva da economia, a alta da inflação e o desemprego, que começava a apresentar sinais de aumento, para continuar sua política monetária expansionista (mesmo sem ter dinheiro suficiente), com a liberação de recursos para as obras do PAC (Plano de Aceleração do Crescimento) e outros investimentos que poderiam ter tido seu ritmo diminuído.
Outro aspecto que vale ressaltar, é que o Brasil viveu momentos de euforia econômica, mesmo nos anos a partir de 2008, início da crise mundial e, neste sentido, com recursos em abundância, começou a criar uma série de programas sociais entre outros, cujos recursos se tornaram legalmente vinculados, ou seja, o governo federal ao criar determinados programas era obrigado a cumpri-los dentro do orçamento. O problema aconteceu pelo fato de que a receita pública federal começou a minguar e o governo não teve mais recursos suficientes para arcar com as referidas despesas obrigatórias. Se somarmos esse raciocínio com a continuidade dos gastos irresponsáveis do ano de 2014, entenderemos o porquê das chamadas “pedaladas fiscais”, onde o governo não tendo recursos suficientes para pagar suas contas impunha aos bancos oficiais a tarefa de fazê-lo, tais como o pagamento de parte dos benefícios de aposentadoria, o repasse para as instituições privadas dos recursos do FIES (Programa de Financiamento Estudantil) e o pagamento do programa Bolsa Família, entre outros. Tal situação é a mesma das famílias em seu orçamento doméstico, quando não tendo dinheiro suficiente para fechar as contas do mês, lançam mão do cheque especial para pagas as contas e depois tem que cobrir esse limite utilizado.
E o que tudo isso tem a ver com você?
Bem, o governo federal, além de ter que cobrir esse rombo decorrente das “pedaladas fiscais”, ainda terá que conviver com a escassez de recursos em face da queda da arrecadação de tributos como reflexo da recessão e está tendo que tomar medidas amargas por meio da política fiscal e monetária, isso se conseguir aprovar tais medidas no Congresso, que é outro problema que não cabe aqui discorrer.
Neste sentido, toda e qualquer medida restritiva do governo e a própria recessão econômica nos afeta de forma direta, pois o desemprego tem crescido de forma exponencial e todos nós, de alguma forma, estamos enfrentando tal insegurança ou já temos alguém na família ou conhecidos que perderam seus empregos. Todos nós temos conhecimentos de pessoas que tentaram por diversas vezes acessar o programa de financiamento estudantil – FIES – para realizar o sonho do curso superior e não obteve êxito em face dos cortes de verbas pelo governo, da mesma forma o programa PROUNI, que vem ceifando vagas e dificultando o acesso pelos pretendentes, uma vez que implica em renúncia de receita para o governo, pelo incentivo fiscal que o programa proporciona às instituições participantes do programa, além de pessoas que estão excluídas do programa Bolsa Família.
Em nosso orçamento doméstico, estamos convivendo com a alta abusiva da energia elétrica, conta esta que até bem pouco tempo nem dávamos importância e hoje temos que economizar energia. Os preços dos combustíveis subiram muito e afetam diretamente nossas vidas, sendo que muitas pessoas precisam de seus carros para trabalhar, fazendo com que seus ganhos diminuam diante dos gastos maiores com gasolina/álcool e diesel.
Na mesma direção temos a alta dos preços em geral e mais especificamente dos gêneros alimentícios e produtos de limpeza, que subiram a olhos vistos, bastando para isso uma visita aos supermercados que são obrigados a repassar tais aumentos e nos obrigam a comprar com parcimônia, escolhendo bem os produtos, trocando de marcas ou mesmo abrindo mão de adquirir alguns produtos essenciais ou não, que já estávamos acostumados a adquirir. Estamos sendo obrigados a nos privar de momentos de lazer, de jantares fora de casa com a família e os amigos e de passeios, tudo em nome da insegurança e da desconfiança do que estar por vir na economia brasileira. A verdade é que o maior inimigo das famílias e dos trabalhadores depois do desemprego é, sem dúvida, a inflação que corrói o poder de compra dos salários.
Por fim, tem-se que a festejada ascensão das classes sociais “D” e “E” para o patamar da classe “C”, já começou a apresentar sinais de regressão, com parte dessas famílias retornando ao status quo ante na escala social, justificada, principalmente, pela perda do emprego.
Infelizmente o ano de 2015 está perdido e o cenário para 2016, segundo os especialistas, é de mais recessão e alta ainda maior do desemprego.
Pedro Carlos Santos Junior, Economista, Advogado, Mestre em Direito Empresarial, Coordenador e professor dos cursos de Administração e Ciências Econômicas do Centro Universitário de Caratinga – UNEChttp://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4278248Y0