Ana Rosa Campos desenvolveu assistente virtual que fornece atendimento 24 horas para vítimas de violência doméstica
DA REDAÇÃO- Uma assistente virtual que fornece atendimento 24 horas para vítimas de violência doméstica. Uma amiga virtual na palma da mão. Essa é a descrição do projeto “Chame a Frida”, criado pela escrivã da Polícia Civil em Manhuaçu, Ana Rosa Campos.
Basta fazer contato pelo WhatsApp e interagir com o menu em casos de violência contra à mulher. Policiais treinadas atendem às vítimas e encaminham as soluções apropriadas para cada caso. A tecnologia em favor das vítimas de violência com agilidade e facilidade. O DIÁRIO conversou com Ana Rosa, que deu mais detalhes sobre o projeto e falou sobre a repercussão e resultados do “Chame a Frida”.
O que lhe inspirou a criar o projeto Frida?
A inspiração veio durante o cenário de distanciamento social imposto pela pandemia do covid-19. Percebi que as meninas e mulheres começaram a ter dificuldades para acessar os serviços da Delegacia da Mulher, não saíam de casa e, em muitos casos, não conseguiam transporte público para chegar até a delegacia. Dessa forma, resolvi idealizar um atendimento via “WhatsApp”, o qual pudesse trazer soluções para as demandas mais comuns das mulheres que buscam atendimento na delegacia, bem como agilizar e facilitar o processo para obter uma medida protetiva.
Antes do projeto como funcionavam os atendimentos e como a Frida facilitou esse contato destas mulheres com a PC?
Antes existiam filas de espera e agora não existem mais. Hoje a mulher, vítima de violência doméstica, poderá, caso agende horário pela “FRIDA”, chegar na delegacia e ser atendida sem enfrentar filas, tudo de forma ainda mais ágil e discreta. A “FRIDA” ainda evita deslocamentos desnecessários até a delegacia, já que esclarece dúvidas e envia documentos, sem necessidade da pessoa ter que ir até a unidade policial.
Você é escrivã da Polícia Civil e pós-graduanda em Violência Doméstica, atuando no atendimento à mulher há 8 anos. Ao longo de todas essas experiências, quais principais desafios observa em relação ao combate à violência doméstica e à situação destas mulheres?
O principal desafio é oferecer atendimento humanizado para essas vítimas. Mecanismos de proteção temos vários, a “Lei Maria da Penha” é moderna e é considerada uma das melhores do mundo. Todavia, de nada adianta uma legislação moderna e eficaz se, com tudo isso, as vítimas continuam sofrendo julgamentos quando buscam ajuda nas delegacias. Acredito na capacitação dos policias que atuam diretamente na área e essa capacitação não deve ser somente acadêmica, acredito que é preciso trabalhar a sensibilidade de cada policial que lida na área, formação humanística é o que acredito. “FRIDA” nasceu com essa proposta, de acolher a vítima, evitando mais sofrimento.
Até o momento, desde a implantação, as mulheres recorreram à Frida para qual finalidade?
Várias solicitações foram feitas através da “FRIDA”, desde esclarecimento de dúvidas, pedido de socorro, agendamento de horários para formalização de medidas protetivas (essa foi a mais comum), 2ª via da medida protetiva e orientações para realização de exame de corpo de delito.
Como tem sido a repercussão da atendente virtual Frida?
É com muita felicidade que digo que a repercussão foi além do que eu esperava. Recebemos elogios de juízes, promotores, políticos, organizações de mulheres e o principal, elogio das vítimas de violência doméstica (os quais nos enchem de orgulho).
A Frida agora é projeto de lei protocolado na Assembleia Legislativa de Minas Gerais. Como está a expectativa para a aprovação e qual seria o impacto desta lei para a sociedade?
O Projeto de Lei 2149/2020, chamado de PL “CHAME A FRIDA”, é um marco pra nós que acreditamos na atendente virtual como instrumento de acolhimento e facilitação do acesso aos serviços da Delegacia da Mulher. O Projeto de lei está na comissão de Mulheres e Justiça, aguardando parecer para prosseguimento dos trâmites. Estamos muito ansiosos para que a tramitação seja rápida e que a “FRIDA” vire logo lei. Virando lei, toda mulher de Minas Gerais contará com a “FRIDA” em sua cidade.
Você tem outros projetos em execução a favor das mulheres?
Bom, eu tenho sim…Ajudei a elaborar um projeto de criação de uma Delegacia da Mulher modelo, também nessa ideia de humanização no trato da violência doméstica. Tenho também um projeto chamado “Viatura da Mulher” que estou ainda correndo atrás pra se tornar realidade e, em breve, pretendo iniciar um outro projeto, o qual tem viés mais educativo, esse ainda estou estudando.
Para finalizar, para aquelas pessoas que querem entender um pouco sobre a temática de combate à violência contra a mulher, você poderia indicar alguma leitura, filme ou história?
Ah, eu sugiro que essas mulheres sigam a página do projeto “FRIDA” no instagram, é só pesquisar “chame a frida”. O insta do projeto tem muito conteúdo bacana, inclusive toda semana sugerimos filmes, séries e livros com essa temática.