Wilson Acácio*
A CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) tem como tema este ano em sua Campanha, que se encerra no Domingo de Páscoa, “Fraternidade: biomas e defesa da vida”. Através de textos básicos, cânticos, pregações do corpo eclesiástico etc., a tarefa da Igreja Católica é o de dar ênfase à diversidade de cada bioma, ao tempo em que propõe criar relações respeitosas com a vida e a cultura dos povos que vivem em cada um deles, especialmente à luz do Evangelho.
Biomas são conjuntos de ecossistemas com características semelhantes dispostos em uma mesma região e que, historicamente, foram influenciados pelos mesmos processos de formação. O Brasil, com mais de 8,5 milhões de km², submetidos a uma mistura e interação natural de fantásticas condições climáticas, de solos, de topografias, de vegetações, de fauna e de recursos hídricos faz com que, no espaço geográfico brasileiro, tenhamos o desenvolvimento de biomas diversificados, segundo os analistas, dos mais ricos de todo o planeta Terra.
Os nossos biomas, representados pela Mata Atlântica, a Amazônia, o Cerrado, o Pantanal, a Caatinga e o Pampa, nos proporcionam o maior superávit ambiental do mundo, segundo o relatório Planeta Vivo, da WWF. Neles vivem pessoas, povos, resultantes da imensa miscigenação brasileira, construída ao logo de nosso processo histórico.
Esta Campanha da CNBB, num trabalho de conscientização e de sensibilização não só para os católicos, é de suma importância porque, desde a descoberta do Brasil, os colonizadores portugueses, com a extração do pau-brasil ao longo da costa brasileira, no início usando a mão de obra escrava indígena e mais tarde negros africanos, o que restou da beleza natural desta área descrita por Pero Vaz de Caminha?
Devido à combinação de vários fatores, ao longo dos séculos, tais como a ganância do capitalismo e de empresários inescrupulosos que buscam a riqueza a qualquer preço, como ocorrido na “Tragédia de Mariana”; a omissão e até o apoio de governantes corruptos; o descuido da sociedade para a questão etc, contribuiu e ainda contribui para que a riqueza natural destes biomas continue sendo ameaçada.
Há de destacar, ainda, o crescimento de todos os tipos de poluição nas cidades; a destruição dos rios – vejam como se encontra hoje o rio Caratinga -; o uso generalizado e indiscriminado de fertilizantes e agrotóxicos; a construção de megas hidrelétricas; toda a cadeia produtiva industrial, desde a exploração dos recursos naturais; a exploração da rede de comércio e serviços; a acidificação dos solos e das águas; a desertificação; a expansão da agricultura e da pecuária para as regiões Centro Oeste e Norte e; o desmatamento desenfreado; a ampliação da malha de rodovias; os incêndios e queimadas, tudo isto, conjuntamente, tem provocado um empobrecimento da exuberância existente em nossos biomas.
Como exemplo deste descalabro com os nossos biomas, a Mata Atlântica, formada por um conjunto de formações florestais e ecossistemas associados, como os manguezais, restingas etc, se estendia originalmente por aproximadamente 1.300.000 km², em 17 estados do território brasileiro, hoje, tem sua cobertura primitiva com apenas 7%. Mesmo reduzida e muito fragmentada, estima-se que na Mata Atlântica existam ainda cerca de 20.000 espécies vegetais, bem maior de alguns continentes, como o europeu com, 12.500!
Se quisermos realmente “defender a vida”, como pede a Campanha da Fraternidade, temos que nos conscientizar de que os nossos biomas, “é a própria vida”. A falta de água em reservatórios de abastecimento humano e de hidrelétricas pelo Brasil afora, e consequente racionamento do líquido da vida, é um alerta dos impactos negativos que estamos provocando em nossos biomas!
*Wilson Acácio, professor aposentado (UFJF), mestre em Geografia (UFRJ), ex-superintendente de Meio Ambiente (Prefeitura de Caratinga), representante da Doctum no CBH-Caratinga, onde é o vice-presidente.