Eugênio Maria Gomes
Terminamos a semana, ainda, com as muitas notícias sobre o dinheiro encontrado na cueca do senador da república, Chico Rodrigues. Além das muitas brincadeiras feitas com o episódio, muita gente ainda perdeu tempo de, mesmo sem abrir defesa declarada ao senador lambão, tentar explicar que o dinheiro encontrado na cueca dele não era sujo. Sinto muito, mas aquele montante de dinheiro, mesmo tendo em sua composição notas novas de duzentos reais, era e continua sendo sujo.
Antes de qualquer coisa é preciso que se diga que, face aos acontecimentos, é bem provável que o congressista em questão usasse naquele dia uma cueca tamanho super G – vulgo cuecão -, ou então que tenha o bumbum bem desfavorecido – vulgo o “sem-bunda”, o “achatado” -, para conseguir guardar cerca de quinze mil reais em sua retaguarda.
O dinheiro por si só, já é algo sujo, já que as notas passam pelas mãos de várias pessoas e vão acumulando impurezas, bactérias, ao longo de sua circulação. Ah, mas aquelas notas do cuecão eram limpas, inclusive tinham notas novíssimas, de duzentos reais? Sim, mas foram entregues ao senador por alguma mão, depois foram guardadas em algum lugar por outras mãos e, por último, foram retiradas de onde estavam, com as mãos, pelo próprio senador, e colocadas na cueca.
Mesmo imaginando que ninguém, absolutamente ninguém, tenha tocado com as mãos sujas o dinheiro que tenha sido produzido pela Casa da Moeda, o que é praticamente impossível, ao colocar o dinheiro na bunda, o senador sujou o dinheiro. Gente, bunda é uma coisa naturalmente suja, às seis horas da manhã. O senador, no dia anterior, deve ter ficado atendendo seus correligionários, bateu aquele prato de pirarucu desfiado, mais tarde comeu uma caldeirada roraimense e ainda mandou para dentro uma paçoca de banana. Deve ter ido dormir com o bucho cheio e acordou duas vezes em suas poucas horas de sono: uma para ir ao banheiro de madrugada e colocar o processamento daquela comida para fora, e outra às seis horas, com a chegada da polícia federal. Bem, foi na bunda que teve essa performance na madrugada, que ele colocou o dinheiro.
Teve quem dissesse que o senador é muito bem remunerado e que poderia ser considerado, até certo ponto, normal um parlamentar desse naipe ter dinheiro vivo, nessa quantidade, em casa. Verdade, mas o dinheiro dele foi parar na traseira, aquela que é a porta de saída do ex-pirarucu… Ou seja, dinheiro sujo!
Também cheguei a ler coisas do tipo “Qualquer dinheiro que se encontre no momento, na casa de alguém, tem de ser dinheiro sujo? Ele pode ter recebido uma dívida, principalmente dos amigos que nestes tempos hodiernos gostam muito de trabalhar com dinheiro vivo”. Verdade, mas, lembrem-se, o dinheiro foi colocado na porta dos fundos, local de saída do substrato da digestão da caldeirada… Ou seja, dinheiro sujo!
“Ora, ora, este dinheiro pode ter sido colocado ali, simplesmente porque estamos em tempo de pandemia e a maioria dos brasileiros guardou algum dinheiro em espécie para alguma eventualidade. Quem ganha menos, coloca menos, mas quem ganha mais, coloca mais”. Verdade. Mas, não podemos nos esquecer que este dinheiro do senador entrou em contato com o espaço em que está localizado o duto de saída de paçoca de banana processada… Ou seja, dinheiro sujo!
Quem sabe, talvez, este dinheiro não seja o resultado de economias juntadas há meses, advindas da rachadinha – e todo mundo sabe que rachadinha não incomoda muita gente, até porque ninguém foi preso por conta dela. Verdade, pode mesmo. O sujeito recebe um pouco de uma rachadinha aqui, outra rachadinha ali… O problema é que ele colocou o dinheiro no rachadão… Ou seja, dinheiro sujo!
Também teve quem dissesse: “Em vez de falarem sobre esse pequeno desvio, lembrem-se da corrupção do PT”. Bem, independentemente de qualquer coisa, o Senador da República, homem sério, defensor da moralidade e que em seu último discurso disse que “Vamos acabar com a corrupção nesse país”, escondeu mais de trinta mil reais no cuecão, sendo parte do valor encaixado na parte de trás. Ou seja, dinheiro sujo!
Se não é dinheiro da CORRUPÇÃO, é dinheiro da CURRUPÇÃO. Ou seja, é dinheiro sujo!
- Eugênio é escritor e funcionário da Funec