Agnaldo Rodrigues fala abertamente sobre preconceito e sua rotina como deficiente físico
Agnaldo Rodrigues, de 42 anos, tem uma verdadeira história de superação. Ele trabalha todos os dias vendendo CDs e DVDs no calçadão da Rua Miguel de Castro. Vítima de uma paralisia infantil, aos quatro anos de idade, hoje usa uma cadeira de rodas, o que para ele, não representa empecilho para uma vida normal. Mas, já enfrentou períodos difíceis em que se “arrastava” no chão, devido à falta de condições para adquirir uma cadeira.
Em entrevista ao DIÁRIO DE CARATINGA, Agnaldo, que foi criado no distrito de Sapucaia, zona rural de Caratinga, fala das dificuldades enfrentadas e afirma que hoje se sente feliz e enfrenta o preconceito. Para ele, a vida tem seus dias de luta para se alcançar os dias de glória.
Você foi vítima de paralisia infantil. Era algo difícil para época.
Sim. Tive paralisia infantil aos quatro anos de idade. Aquela época meu pai falava que era mais difícil, até mesmo as condições de saúde eram complicadas; principalmente em Sapucaia, era muito atrasado. E era até difícil de diagnosticar, de entender, quando se dava conta, já havia parado de andar. Então não me lembro de ter andado. Minha mãe morreu pouco tempo depois que nasci. Fui criado pelo meu pai, meus irmãos e depois minha madrasta também.
Com o tempo, você aceitou sua condição?
Nasci perfeito e isso me deixava confuso. Eu era uma pessoa muito revoltada. Via os meus irmãos andando perfeitamente, sem problema nenhum. Queria ser perfeito, mas Deus fez dessa maneira. Para alcançar hoje essa alegria que tenho foi quando conheci e aceitei Jesus. Quando conheci a palavra de Deus isso caiu por terra, as dificuldades, a vergonha.
Você estudou? Como era sua rotina?
Tive apenas o ensino básico, pois a escola era muito longe e tinha minhas limitações físicas. Ficava mais em casa quando novo. Meu pai mexia com fazenda. Ajudava dentro do que eu podia, andava a cavalo, buscava boi. Mas, eu andava com a mão no chão mesmo, arrastando, aprendi na raça mesmo.
Quando você adquiriu sua primeira cadeira de rodas?
Com 15 anos vim para Caratinga. Aos 23 anos, juntaram alguns amigos e me deram uma cadeira. Mas já havia sido a infância e adolescência de outra maneira, então acabei me acostumando.
Você mora com a família?
Fui casado e tenho três filhas. Como passado tem coisas boas e ruins, me separei e hoje moro só. Tenho minha casa, pago aluguel, não dependo das pessoas, tenho meu dinheiro, consegui arrumar minhas coisinhas tudo de novo. Mas tenho contato com minhas filhas e um bom relacionamento. Faço de tudo para me aproximar delas. Dou apoio e converso.
Como teve a oportunidade de começar a trabalhar?
Sempre tive vontade de fazer alguma coisa. Com a deficiência era difícil arrumar emprego e queria me casar também, mas, como sem emprego? Um amigo me deu uma ideia, ofereceu de eu trabalhar vendendo mercadoria aqui no calçadão, era fita na época. Eu tinha 20 anos e isso deu sustento e me permite cuidar das minhas filhas até hoje. Toda a vida me arrastando de joelhos, lá do alto da antena até aqui no calçadão.
Já sofreu algum tipo de preconceito?
Sempre tem preconceito. Algumas pessoas que ficam olhando pra gente. É uma coisa que tem mesmo que superar. Já perdi até circular, o trocador questionava como eu ia subir, mas isso nunca foi barreira pra mim. Deus me deu essa graça, essa força que não dependo das pessoas nessa área não. Não tenho dificuldade. Taxista não gosta de levar porque pensa que tem que carregar a gente no colo, eu não tenho essa necessidade, graças a Deus.
Isso acontece somente na cidade?
Não. Certa vez, na cidade de Governador Valadares, cheguei com minha cadeira de rodas e quando procurei um quarto no hotel para passar a noite, o dono me recebeu, olhou e falou: ‘Não tem quarto, está tudo cheio’. Quando saí, de repente entrou um homem, perfeito, normal, ele recebeu e colocou pra dentro. Pensei: ‘Meu Deus, não tinha quarto pra mim’. Fui embora pra outro hotel, o moço falou pra mim: ‘Como que faz pra você dormir, alguém tem que te dar banho?’. Respondi que faço tudo, sou perfeito, isso não é problema. As pessoas pensam que tem, mas não, graças a Deus. Isso que me entristece.
As ruas de Caratinga estão preparadas para receber as pessoas portadoras de deficiência física?
Tem ruas que o calçamento para cadeira de rodas não ajuda. Buraco, muito ruim, precisa ser arrumado mesmo.
Como você se sente hoje?
Hoje sinto minha vida normal, apesar das lutas, que não só eu passo, mas todo mundo. Faço de tudo para vencer. Me sinto realizado e feliz, porque primeiramente, quando a gente tem Jesus no coração não olha para as dificuldades da vida. Sou pastor de igreja, tenho três ministérios que pastoreio e trabalho muito por pessoas carentes, que estão perdidas, mexendo com drogas. Levo a palavra de Deus, o meu testemunho, o que passei e passo. Isso que passo pra mim não é dificuldade, é alegria, porque creio que a bíblia diz que Ele vai nos dar um corpo de glória. Hoje estou na cadeira de rodas ou andando arrastando no chão, mas a Bíblia fala que vou andar de pé um dia, e essa é a alegria que tenho.
“Hoje estou na cadeira de rodas ou andando arrastando no chão, mas a bíblia fala que vou andar de pé um dia e essa é a alegria que tenho”.
“Tenho minha casa, pago aluguel, não dependo das pessoas, tenho meu dinheiro”.
“Nasci perfeito e isso me deixava confuso. Eu era uma pessoa muito revoltada. Via os meus irmãos andando perfeitamente, sem problema nenhum”.