CARATINGA – Na noite do último sábado (26), um cachorro-do-mato foi encontrado próximo ao Cruzeiro que fica às margens da estrada de acesso ao distrito de Dom Modesto. Ele tinha acabado de ser atropelado e foi abandonado no local. Um jovem que passava de moto parou e resgatou o animal.
Luis Henrique Bitencourt, pai do jovem, explicou que seu filho voltava de Dom Modesto por volta das dez horas da noite quando viu que um carro logo à sua frente tinha batido em algo. O motorista seguiu viagem, mas ele parou para ver o que tinha acontecido. O rapaz identificou que o carro havia atropelado um cachorro-do-mato e, imediatamente, prestou socorro ao animal.
“De moto mesmo meu filho levou o cachorro-do-mato para casa para ver se conseguia recuperar sua vida, porque foi um choque muito violento. No dia seguinte, nós entramos em contato com amigos para tentar encaminhá-lo ao CASU – Hospital Veterinário Joaquim Felício e lá ele recebeu os primeiros cuidados”, contou Luis Henrique.
Assim que o cachorro-do-mato chegou ao Hospital Veterinário, a equipe de plantão fez os exames iniciais e identificou que o animal estaria com uma possível fratura. É uma fêmea, que está sendo alimentada e recebendo medicação para dor, desde então.
“O animal chegou apresentando um quadro severo de dor, desidratação, sinais de anemia, fraqueza, perda de peso e foi dado o suporte inicial. Ele foi acalmado com uma leve analgesia para controle da dor e foram adotadas medidas para coleta de sangue para fazer uma análise geral do seu estado clínico”, explicou Roger Bordone, coordenador do curso de Medicina Veterinária do Centro Universitário de Caratinga – UNEC.
O cachorro-do-mato não apoiava a perna e apresentava inchaço na região, além de manifestar dor quando manipulado ou quando se movimentava dentro da baia de internação. Por isso, a suspeita de fratura, que só poderá ser confirmada mediante a realização de uma radiografia. Porém, o animal precisa ser anestesiado para realizar o exame, o que pode trazer certos riscos, já que ele se encontra debilitado.
Roger Bordone afirmou que a preocupação no momento é estabilizar clinicamente o animal para que ele possa receber a anestesia com segurança. “Mediante o raio-X e a ciência do grau da fratura, poderemos escolher o tratamento mais correto, que pode ser desde uma imobilização ou até mesmo uma cirurgia ortopédica”, avaliou.
Os exames iniciais também identificaram no animal a erliquiose, conhecida como doença do carrapato e que afeta muito os cachorros domésticos. O quadro será tratado e a situação acompanhada pelos médicos veterinários do CASU – Hospital Veterinário Joaquim Felício.
O cachorro-do-mato, popularmente conhecido como raposinha, é típico da nossa região, sendo encontrado em grande parte do território nacional. Ele possui hábitos noturnos e costuma se alimentar de carcaças de animais em decomposição. Com o avanço da intervenção humana, é comum que este e outros animais silvestres deixem seu habitat natural à procura de alimento em áreas urbanas.
“Os casos de atropelamento em nossa região são muito comuns. Em média, acontecem treze ou quatorze casos por semana na rodovia que corta Caratinga”, comentou o biólogo Erikson Assis, ex-aluno do Centro Universitário de Caratinga – UNEC. Ele deu orientações à população em caso de situações semelhantes. “Se você encontrar um animal ferido, encaminhe aos cuidados de um médico veterinário ou entre em contato com a Polícia Ambiental, principalmente se for um animal de grande porte. É preciso ficar atento e não colocar sua vida em risco tentando salvá-lo, considerando que são animais silvestres que também podem transmitir doenças”, alertou.
A expectativa é de que o cachorro-do-mato se recupere o mais rápido possível para ser reinserido na natureza.
Cachorro-do-mato
O cachorro-do-mato é onívoro. Alimenta-se de frutas, insetos, peixes, pequenos vertebrados e pode se alimentar de carniça. Na natureza, ele desempenha um papel muito importante que é a dispersão de sementes, pois percorre grandes áreas e se locomove muito, contribuindo para a regeneração e manutenção dos fragmentos de mata.
O hábito de se alimentar de carniça acaba sendo prejudicial a ele, por conta da intervenção humana, uma vez que se dirige às rodovias em busca de comida e acaba sendo atropelado.
O biólogo Erickson Assis explicou que o cachorro-do-mato é um animal que sente muito os impactos do desmatamento e da destruição dos biomas. “A principal causa de morte desses animais são as doenças transmitidas pelos cães domésticos que acabam entrando em contato com eles”, comentou.
O coordenador do curso de Medicina Veterinária do UNEC, Roger Bordone, chamou atenção para esse tipo de situação. “A função do médico veterinário no que diz respeito à preservação das espécies é zelar não somente pela qualidade do atendimento desses animais, mas principalmente pela conscientização das pessoas e pela integridade do ambiente natural de cada animal. É necessário conhecer as espécies comuns de cada região e fazer com que esses animais não precisem de um atendimento médico veterinário”, ressaltou.
Roger comentou, ainda, que os médicos veterinários trabalham em parceria com os biólogos para que os animais silvestres sofram o mínimo possível com a intervenção humana.