Foram 26 casas inundadas, quatro com perda total, um prédio desmoronado e uma residência interditada. Prefeitura pretende decretar estado de emergência no município
IMBÉ DE MINAS- O último dia do ano de 2018 foi de muito pânico para os moradores da cidade de Imbé de Minas. Na manhã chuvosa de segunda-feira (31 de dezembro), a população amanheceu surpreendida por alagamentos, devido ao rompimento de um açude de pequeno porte; a queda de uma ponte e de um prédio de três andares. A represa está situada na zona rural. A principal avenida ficou totalmente alagada, assim como muitas casas da região.
O balanço é de 26 casas inundadas, quatro com perda total, um prédio desmoronado e uma residência interditada. De acordo informações colhidas pelo DIÁRIO, em um período inferior a duas horas o leito do córrego subiu três metros. Além disso, na Avenida José Calazans, havia um muro sobre o corrimão da ponte, o que impediu o fluxo da água. Os moradores também ficaram por horas sem o fornecimento de água potável e em algumas localidades, sem energia elétrica, pois foi preciso reparar redes danificadas.
Segundo sargento Gleyson, do Pelotão de Meio Ambiente, uma equipe do Núcleo de Emergências Ambientais (NEA) é aguarda na cidade hoje, para analisar os prejuízos e responsabilidades. “Grandes chuvas na madrugada naquela região, os rios transbordaram, aumentou o nível acima do esperado. Com isso vieram os prejuízos. Uma barragem de grande volume de água em uma propriedade rural se rompeu e trouxe enxurrada e lama pra dentro da cidade. Mas, as providencias já estão sendo tomadas. Já fizemos contato com o NEA, uma equipe vai fazer um laudo técnico e nós da polícia ambiental, desde que tomamos conhecimento estamos confeccionando boletim de ocorrência, com todos dados, infrações e penalidades que o produtor possa ter causado à natureza e bem estar da população”.
O militar ainda detalha a fiscalização realizada na propriedade em que a represa está instalada, onde foram constatadas irregularidades. “Essa propriedade já foi fiscalizada anos atrás, em 2012, mas como aconteceu uma novidade tivemos que fiscalizar novamente. Estivemos no dia 1° e constatamos que lá existe uma barragem de 1,4 hectares de alagamento, isso passa dos 5 mil metros cúbicos de água, ele precisaria de uma outorga para que essa represa esteja legal e ele não tinha. Identificamos esse problema, ele será penalizado perante a justiça. Os culpados serão punidos, mas isso é um fenômeno da natureza, aconteceu também devido às chuvas. É importante esclarecer. E se tem algo errado tem que ser também esclarecido e a pessoa punida, o que serve de exemplo para quem quer construir uma barragem”.
O DESABAMENTO
De acordo com informações dos bombeiros, o imóvel estava construído sobre o rio, que tem seu volume controlado por uma manilha. No entanto, devido ao volume intenso de pluviosidade na região, o tubo não suportou a quantidade de precipitação, tendo a água consumido o alicerce do prédio, com posterior desabamento. Os andares estavam distribuídos em uma loja e duas residências, mas, ninguém se feriu, pois não havia moradores no local.
Elisabeth Ferreira da Silva, morava há 24 anos ao lado do prédio e seu imóvel também foi atingido. Em meio ao cenário de destruição é possível ver um veículo dependurado, dentre o que sobrou da garagem da residência. Abatida, ela conversou com a reportagem. “Vejam o sofrimento de um pobre. As coisas em cidade pequena são feitas de qualquer jeito. E se um pobre chega e reclama não é ouvido. Era uma ponte, onde foram se fazendo coisas que não devia, taparam tudo, fazendo paredes. A água foi invadindo por coisas que construíram em cima do rio. Aqui já tinha acontecido até dessa ponte cair, mas não teve alagamento. Uma ponte que tem 17, 18 anos cair de construída, será que o dinheiro está tão fácil assim? Se essa ponte tiver é 20 anos, acredito que nem isso ela tem”, declarou.
Ela se recorda da manhã do desabamento e afirma que só tomou conhecimento da proporção do alagamento, após ter sido avisada por vizinhos. “Tomo remédios controlados e durmo até mais tarde. Na hora que deu aquele trovão eu acordei. Fui no banheiro, voltei e fui ler a bíblia. Nisso o telefone tocou, respondendo a mensagem uma pessoa me gritou em desespero. Quando atendi falou: ‘Sai dona Beth, que a água está invadindo tudo’. Na hora aquele desespero para pegar pelo menos os remédios porque sei que não posso ficar sem eles, saí porque duas pessoas praticamente me puxaram. Quando o prédio caiu já tinham me tirado da casa”.
Elisabeth relata os prejuízos, inclusive para um morador que guardava seu veículo na garagem que desabou parcialmente. “Prejuízo é muito grande porque a laje ali, são coisas que não tem nem como imaginar. Eu dependo da família, é a família que me mantém, porque tenho epilepsia, infelizmente não se consegue emprego para nada. Minha garagem era muito grande, sempre tinham as pessoas colocando os carros. Dois deles não foram atingidos, o outro que é inclusive de um professor que batalha para conquistar as coisas, conseguiu no suor, pois o salário sabemos que não é bom, foi o mais atingido. Agora estão alegando em tirar aqueles entulhos, queria que eles entendessem e esperassem primeiro eu tomar as providências para mexer naquela laje”.
O imóvel foi interditado pela Defesa Civil, por isso Elisabeth não pode permanecer no local. Ela, que morava sozinha, lamenta. “A casa está em risco, tenho que sair da minha casa. Agora estou andando na casa de um amigo e de outro. E quando começar a tirar o que caiu do lado de lá, acredito que vai prejudicar mais ainda. É muito triste, vemos as coisas acontecendo. E será que vai ter justiça? É a pergunta que fica. Eu não estou pensando em móveis, mas é uma coisa que chateia demais. Só Deus para dar explicação, o dia que encontrar com Ele, vai me explicar tudo isso”.
ALAGAMENTOS
Uma mercearia, próxima ao prédio desabado, também foi atingida pelo alagamento registrado em Imbé de Minas. De acordo com o responsável pelo estabelecimento, Vitor Calebe Medeiros, o cálculo é de aproximadamente R$ 15.000 em prejuízos com a perda de mercadorias. “Uns cinco fardos de açúcar; fubá, feijão, tudo isso perdeu. O que estava no alto deu para salvar. Quando começou o alagamento a mercearia já estava em funcionamento e foi tudo muito rápido, da segunda prateleira para baixo molhou tudo”.
Rosário Brandão perdeu praticamente tudo. Com o filho portador de necessidades especiais, ela passou por momentos de tensão, vendo a água invadir sua residência e arrastar móveis. “Estou agora em uma casa improvisada, dormindo em um colchão no chão, com um fogão emprestado pela minha mãe”, conta.
Ela se recorda que a água veio do quintal, quebrou um muro que faz divisa com a residência e invadiu o interior da casa, provocando um verdadeiro estrago. “Já foi arrebentando tudo dentro de casa. Do jeito que ela veio, com a força, nunca vi isso na minha vida. Única coisa que sobrou foi o tanquinho, lavei o fogão, mas não teve recurso. Arrancou pia com gabinete, fogão a gás, geladeira. Ainda bem que deu tempo, enquanto nós saímos a geladeira e o fogão foram arrastados, o que prendeu uma porta. Na garagem o carro ficou boiando, levamos para tentar consertar. Conseguimos segurar o portão, para o carro não ser arrastado para a rua”.
Em uma financeira, a água também invadiu e deixou prejuízos. “Perdi computador, impressora, tudo foi embora. Ficou só o teclado. Estimo um prejuízo de R$ 8.500”, afirma Carlos Antônio.
PREFEITURA
A Prefeitura de Imbé de Minas afirma que está prestando assistência aos atingidos pelos alagamentos e que aguarda a visita da Defesa Civil Estadual, pois pretende decretar estado de emergência no município, para buscar apoio financeiro do Estado e da União no reparo dos danos. “Estamos tomando as providências, o pessoal da assistência social está visitando as famílias e comerciantes atingidos. Tivemos com o corpo de bombeiro, a Polícia de Meio Ambiente também já esteve, tomando as providências, tanto emergenciais, como criar um outro acesso para o Bairro Vitória, o posto de saúde, porque o centro da cidade que foi mais problemático”, declara o prefeito Marco Antônio do Carmo.