Professora Dora Bomfim relembra tradição natalina e a importância de resgatar os valores da data
CARATINGA- O Natal é tempo de confraternização e reflexão. Para os religiosos, a data celebra o milagre do nascimento de Jesus Cristo. Com o tempo, criou-se também a tradição das famílias se reunirem em torno de mesas fartas e compartilhar presentes. Mas, com o passar dos anos, o que mudou no modo como as pessoas comemoram esta data?
Para refletir sobre o verdadeiro sentido do Natal, o DIÁRIO DE CARATINGA traz entrevista com a professora Dora Bomfim, 78 anos. Ela compartilha suas lembranças de infância, fala sobre o imaginário infantil e cita que é preciso refletir sobre
Quais lembranças do Natal de sua infância a senhora poderia compartilhar conosco?
Na minha infância, o Natal era totalmente diferente. Nós ganhávamos pequenos presentes, porque eu era filha de pequeno comerciante; meu pai João Batista Pereira e minha mãe Mirandolina Bomfim Pereira tinham aquele cuidado em manter a tradição do Natal. O único objetivo na época, era comemorar o nascimento de Cristo. A palavra Natal vem do latim ‘natális’, que significa ‘O Dia do Nascimento’. Era muito importante assistir à Missa do Galo e no dia 25 comemorar a união da família, dos amigos e dos vizinhos.
Como professora, o que a senhora observava na expectativa dos alunos com a proximidade do Natal?
As crianças ficavam muito entusiasmadas porque iam ganhar presente. E sempre era lembrado o objetivo, o verdadeiro sentido do natal, o nascimento de Cristo. Hoje, o Natal é totalmente diferente, lembra-se bem o consumismo, esquecendo-se o que é o principal objetivo.
Há quem acredite que o Natal de hoje não tem a mesma tradição de antigamente, quando as famílias se reuniam para celebrar. De fato, o perfil das famílias de hoje mudou?
Acho que sim. Porque hoje muitas pessoas das famílias moram muito distante. Essa distância às vezes impede da confraternização junto aos seus parentes.
Muitos dizem que hoje vivemos o tempo da razão, onde o Papai Noel não está tanto no imaginário das crianças. Como a senhora observa esta realidade?
Acho que tira-se um pouquinho do desejo da criança pelo Papai Noel. Outro dia vi uma entrevista dizendo: ‘Papai Noel existiu?’. Sim, era São Nicolau, que gostava de presentear as crianças. Hoje, com a tecnologia, as crianças desde cedo já não acreditam em mais nada. Nós vemos as crianças no WhatsApp, Facebook, esquecendo de participar do verdadeiro Natal.
O Natal superou as fronteiras do mundo cristão, movimentando o consumo, com a compra e venda de presentes e comidas diversas. Como manter vivo o significado original da data?
É preciso conscientizar. Que cada família conscientize seus filhos mostrando o principal. É festa família? Sim. É reunião da família? Sim. Mas, é preciso mostrar para eles que o nascimento de Jesus é mais importante.
A criança precisa de fantasia para formar o seu mundo real?
Sim. A criança tem que viver a infância e essa infância é tão bonita e importante, que nós precisamos ensinar e mostrar que Jesus é mais importante.
Como a senhora costuma comemorar o Natal?
Meus irmãos moram bem distante, então aqui nós reunimos, marido, filho, um irmão que mora aqui, cunhada, às vezes sobrinhos. E este ano vem passar aqui o Natal comigo o padre Moacir (Moacir Ramos Nogueira, pároco da Catedral), pessoa que gosto muito e que durante esse meu problema que eu não podia estar presente às missas, sempre estava aqui ao meu lado me confortando.
Neste Natal, qual sua mensagem?
O verdadeiro sentido do Natal para nós cristãos é uma das grandes festas, quando comemoramos o nascimento de Jesus. É um momento de grande alegria e gratidão àquele que veio para salvar a humanidade. É Cristo renascendo no coração de cada pessoa, isso acontece todo ano, o nascimento de Jesus que veio para nos ensinar o que é o amor, a bondade, o amor ao próximo, a fraternidade, o respeito, nos ensina a partilhar, a não aceitar a violência, enfim, a viver no mundo como irmãos e filhos de Deus. Natal tem como objetivo a festa da fraternidade, da união, principalmente das famílias. A festa do perdão, da esperança, para que todos nós possamos viver em paz na amizade e na igualdade. A nossa casa deve ser Belém, onde Jesus possa habitar constantemente com alegria em nosso coração, a certeza que pode contar conosco no mundo carente de amor e de fé. Nós, portadores e promotores da paz não podemos deixar reinar em nosso meio, a violência que deve ser combatida por todos que amam Jesus. Nós lutamos por um mundo melhor, mais justo, mais humano, mais fraterno e somos adeptos da cultura do encontro da paz e da fraternidade, onde conseguiremos reviver o verdadeiro sentido do Natal. Devemos deixar nascer em nossos corações, o desejo que sempre temos de perdoar e fazermos deste Natal algo que possa mudar nossas vidas. O nosso coração é o lugar onde José e Maria pedem para dar à luz Jesus. Gostaria de deixar uma mensagem a todos os leitores, que hoje somos convidados a ser José e Maria e a afagarmos o Menino, que deseja alegrar nossas vidas. Que Ele venha para alegrar as nossas vidas.