Em entrevista ao DIÁRIO, psicólogo Marco Antônio Gomes traça perfil de homicidas que têm familiares como suas vítimas
DA REDAÇÃO- Os crimes envolvendo pessoas da mesma família vêm tomando os noticiários. Quem não se lembra da história de Suzane Von Richthofen, condenada pela acusação de ter planejado o assassinato dos pais, Manfred e Marísia, com a ajuda do namorado Daniel Cravinhos e de seu irmão, Christian Cravinhos, em 2002? Ou o caso Nardoni, em que Alexandre Nardoni foi condenado por matar sua filha, Isabella, em março de 2008. A menina foi asfixiada pela madrasta, Anna Carolina Jatobá, também condenada, e jogada pelo pai da janela do sexto andar do apartamento do casal.
Outro registro que chocou o país foi o assassinato da idosa Antônia Conceição Silva, 106, ocorrido na cidade de Feira Nova do Maranhão (MA). Ela foi morta a pauladas no dia 17 de novembro de 2018 e o autor foi o próprio sobrinho. Segundo investigações da Polícia Civil maranhense, a idosa seria vítima de um assalto a sua residência. No entanto, como ela viu o responsável pelo roubo, o autor resolveu matá-la.
Um caso mais recente foi registrado na Paraíba. Um adolescente de 16 anos matou o pai, na noite desta terça-feira (4), para tentar defender a mãe que estava sendo agredida por ele, em João Pessoa.
Uns planejados, outros por impulso. Contextos diferentes, que envolvem situações distintas, mas têm em comum homicídios registrados no contexto familiar. Afinal, que caminho percorre a mente até chegar ao ato criminoso? O DIÁRIO traz entrevista com o psicólogo, professor Marco Antonio Gomes, que fala sobre o assunto, sob a perspectiva da Psicologia.
Dentre as explicações sobre os motivos que levam alguém a matar seus familiares, um dos braços da biologia evolutiva defende a influência da genética no comportamento. A Psicologia vê esta questão sob qual perspectiva?
Vários autores e estudiosos da Psicologia Criminológica consideram o parricídio como um ato de resposta a uma vivência, ou seja, uma história de opressão e abusos por parte de quem comete o crime. Tais estudos mostram que, pessoas que matam seus progenitores ou figuras que representam esse papel de cuidador, foram agredidas tanto física como psicologicamente por esses que deveriam protegê-las. Nessa mesma direção, os estudos fundamentados na Psicologia atribuem os homicídios em família a dois fatores fundamentais: experiência de abusos sexuais, psicológicos e físicos na infância e, por vícios em drogas, álcool e jogo, em que o criminoso mata para conseguir recursos para sustentar seus vícios.
Estatísticas apontam que as mulheres, que representam pouco mais de 50% da população mundial, cometem muito menos homicídios que os homens. É possível traçar uma teoria do porquê os homens matam mais?
As pesquisas revelam que 95% dos assassinatos no mundo são cometidos por homens, várias razões podem explicar esse fenômeno. Algumas dessas causas pode se refletir, por exemplo, no papel que o homem representa em algumas culturas, ou pelo vício de drogas, como o álcool. O acesso a armas de fogo também pode ser um dos motivos assim como participação em atividades de crime organizada. Para a Psicologia evolutiva, o homicídio masculino pode ser explicado também pela testosterona, tendo esse hormônio masculino uma relação direta com a competitividade, levando muitas vezes à violência e agressividade.
Grande parte dos assassinatos é provocada por conflitos familiares. Neste contexto, qual o percurso mental destas pessoas até chegar ao ato criminoso?
No que se refere ao quadro mental, assassinatos, incluindo os provocados por conflitos familiares, são geralmente determinados por um transtorno psicopatológico. São vários os transtornos mentais que motivam esse ato, geralmente acompanhados de sintomas psicóticos, onde existe uma distorção da realidade, a essa causa, inclui-se também o álcool e as drogas.
Para especialistas, o arrependimento raramente consta entre os sentimentos daqueles que matam. Como psicólogo, o senhor concorda com essa afirmação?
Para analisarmos os sentimentos como arrependimento e culpa dos que matam, vários fatores devem ser levados em consideração. Qual a motivação do crime, o estado mental do criminoso e o nível de ideação de pensamento que tenha precedido esse comportamento. Pessoas que cometeram crimes que apresentam quadros psicopatológicos e senso de realidade distorcida, geralmente não demonstram tal sentimento, por não terem consciência do ato cometido. Psicopatas e indivíduos com personalidade antissocial geralmente não reconhece seus atos agressivos por se colocarem sempre como vítimas. Em alguns casos é comum o sentimento de arrependimento e culpa, geralmente reações impulsivas, ciúmes e crimes onde não existia a intenção de matar.