Thelma Regina Alexandre Sales
A dependência química (DQ) está instalada quando o indivíduo sente que a droga é tão necessária em sua vida quanto comida, água, repouso, segurança e afeto e é capaz de abrir mão de tudo isso em função do uso da substância. Drogadição é o termo mais adequado para referir tanto à dependência, quanto a farmacodependência ou toxicomania.
Ininterruptamente o ser humano é influenciado pelo meio em que vive, sendo a ele determinado como agir, pensar e se comportar. A opção inicial de usar droga é consciente e motivada por várias situações: angústias da vida, curiosidade, influência de amigos, vontade de buscar um jeito novo de se divertir, além do excesso de liberdade, da cobrança de resultados nos estudos, no trabalho e no convívio familiar, que fazem com que algumas pessoas se refugiem em meios onde as drogas figuram como solução para quaisquer situações.
O uso de substâncias é considerado um grave problema de saúde pública. As substâncias causadoras de dependência são o álcool, o tabaco, a cocaína e seus derivados (ex. crack e a pasta-base), a maconha, os alucinógenos, solventes e inalantes (ex. cola de sapateiro e acetona), psicoestimulantes como anfetaminas e cafeína, opióides, sedativos e hipnóticos.
O Brasil conta atualmente com quase seis milhões de dependentes químicos (DQ), cerca de 3% da população geral. Quase 246 milhões de pessoas (pouco mais de 5% da população mundial), com idade entre 15 e 64 anos, fizeram uso de drogas ilícitas em 2013, entre os quais 27 milhões sofreram com expressiva repercussão clínica e social (Relatório Mundial sobre Drogas de 2015).
A DQ é uma doença crônica, progressiva e incurável, primária e, por vezes fatal, causada pelo consumo repetitivo de substâncias e que resulta em alterações cerebrais e sistêmicas, em grande parte, irreversíveis. Não é um desvio moral e, portanto, não deve ser tratada como tal. Esse transtorno mental é representado por compulsão pela droga; sintomas de abstinência, necessidade de doses crescentes para atingir o mesmo efeito (tolerância); falta de controle sobre a quantidade e abandono de outras atividades para manter o uso, mesmo com prejuízos evidentes. Três desses sintomas são suficientes para comprovar a doença.
A doença traz prejuízos à vida da pessoa em todas as esferas, com perdas em âmbito físico, psíquico, afetivo, social, laboral, financeiro, ocupacional, jurídico e da liberdade de escolha. Para um DQ, usar a droga é seu foco, sendo que tudo o que está em seu entorno, família, estudos, trabalho, lazer, saúde ficam em segundo plano. Dependentes químicos encontram dificuldades em concluir um curso ou quaisquer outros projetos, em se firmar no emprego, conviver em família ou até mesmo fazer planos para o futuro. Seus relacionamentos são conflituosos e há maior incidência de comportamento violento e envolvimento em situações de risco (ex. dirigir intoxicado e fazer sexo sem proteção). Usam de quaisquer alternativas para conseguirem a substância que lhes causa dependência.
O consumo exacerbado de substâncias faz com que o cérebro crie “memória” dos efeitos da droga por toda a vida. Por isso, mesmo aqueles em tratamento ou que já estão livres de substâncias há várias décadas, irão voltar ao padrão de consumo excessivo caso voltem a experimentá-la.
Poucas doenças têm um julgamento social tão negativo. Dependentes são vistos como pessoas com falta de vontade, falta de caráter e falta de vergonha.
O preconceito social e os aspectos psicológicos e comportamentais, como orgulho, baixa-estima e não aceitação da doença, dificultam o tratamento e a recuperação do indivíduo que, apesar de ser incurável, é controlável, desde que o paciente se submeta ao tratamento multidisciplinar e ao uso de medicação para conter a compulsão, a fissura e os sintomas de abstinência.
O tratamento, em regime descontinuado (ambulatório, consultório) ou continuado, de forma voluntária, involuntária ou compulsória são instrumentos úteis em casos selecionados, bem como a convivência em grupos de mútua ajuda. Sem a participação da família, no entanto, nenhum tratamento para DQ resulta em sucesso. A família precisa se envolver e incentivar o doente à abstinência, entendendo que as recaídas não são raras e usando de postura firme para impedir quaisquer manipulações. Grupos de mútua ajuda próprios para a família, a exemplo do grupo de apoio amor-exigente, são facilitadores do processo.
Thelma Regina Alexandre Sales – Nutricionista e Médica – Especialista em Psiquiatria – Especialista em Terapia Nutricional/SBNPE, Nutrição Clínica/UECE e Saúde Pública/UNESCO – MBA em Gestão de Negócios/UNEC – Mestre em Meio Ambiente, Saúde e Sustentabilidade/UNEC – Professora do Centro Universitário de Caratinga. Atua em Psiquiatria no Núcleo de Apoio Psicopedagógico (NAP) do Centro Universitário de Caratinga e no CAPS infantil de Inhapim. Atua ainda em Medicina de Família e Urgência.