Thelma Regina Alexandre Sales
Não é fácil identificar um dependente de drogas. Os amigos e, principalmente, a família demoram a perceber os sinais que podem ajudar na suspeita de que uma pessoa possa ser um adicto. Em parte, pela crença de que “isso só acontece com os outros”.
Qualquer pessoa que usa uma droga corre riscos. E um dos riscos mais importantes é de se tornar dependente. A dependência é uma doença grave, pois modifica o modo como o dependente percebe o mundo, as pessoas e a sua relação com a droga. Além de perder o controle sobre o uso, deixando de ser apenas um usuário, o dependente químico também sofre com as consequências da droga no seu organismo (câncer, problemas cardíacos e hepáticos, impotência sexual, falta de energia ou ideação suicida e outros).
Nem todo usuário é dependente, mas todo usuário corre o risco de se tornar dependente. O que caracteriza dependência é a perda do controle do uso da droga (o dependente não consegue interromper ou quando começa a usar não consegue controlar as quantidades de droga que usa); a substituição progressiva de atividades importantes como o lazer ou trabalho pelo uso da droga; a persistência do uso da droga apesar das suas consequências negativas e a presença de fissura, ou seja a vontade incontrolável de usar a droga que pode aparecer a qualquer hora do dia ou da noite.
Torna-se adicto é um processo que pode ser rápido e, depende do tipo de droga (crack ou a heroína podem causar dependência desde os primeiros usos), da idade em que começa o uso e de uma propensão familiar (genética) de se tornar dependente. Quanto mais precocemente se inicia o uso de substâncias, maior é a chance de se tornar dependente. Pessoas que têm familiares que são dependentes têm maior tendência a se tornarem dependentes. Só essas informações já geram um estado de alerta para a doença. Uma vez iniciado o uso de drogas, tanto licitas quanto ilícitas, é possível reconhecer um dependente a partir de mudanças no seu estado de humor e comportamento e na observação de sinais e sintomas físicos e psíquicos como:
– Mudanças bruscas de comportamento: a pessoa altera seus horários de voltar para casa, não informa mais os locais que frequenta, tem sumiços repentinos, passa dias sem voltar para casa e inicia uma cascata de mentiras para justificar seu comportamento. As mudanças comportamentais também ocorrem após ingerir, fumar, cheirar ou injetar drogas no corpo e que podem ocorrer assim que a droga começa a fazer efeito (o que, em geral, é muito rápido) e também quando o efeito acaba, quando a pessoa pode ficar muito irritada e agressiva.
– Fatiga, letargia, desmotivação, falta de interesse e perda de energia.
– Variação de humor: a pessoa passa de deprimida a agressiva sem motivos evidentes. Usar drogas cada vez com mais frequência, inclusive pela manhã, e a mudança de humor em situação de não uso são fortes indícios de dependência, principalmente se a pessoa acordar irritada e melhorar após usar.
– Inquietação motora: impaciência, inquietude, irritação, agressividade e violência.
– Problemas de relacionamento com pessoas e brigas frequentes com amigos.
– Isolamento social: o dependente evita contato social sem que isso configure depressão. Às vezes é uma escolha para não ser notado.
– Paranoia: o adicto acha que todos estão contra ele ou que alguém o persegue.
– Alteração do sono: passa a dormir durante o dia, ficando acordado durante a noite.
– Uso frequente de colírios: apresenta olhos irritados e passa a andar com colírios.
– Desaparecimento de objetos de valor e dinheiro da casa do dependente.
– Aparecimento, na casa do dependente, de objetos que não lhe pertencem, afirmando estar vendendo ou que ganhou, quando, na realidade pode tratar-se de roubo ou furto que ele (ou ela) troca por droga para manter o vício.
– Mudança de companhias: o adicto passa a andar sempre com outros adictos.
– Dificuldade para se expressar.
– Mudanças bruscas nos hábitos alimentares; emagrecimento.
– Deterioração repentina do rendimento e do compromisso escolar/trabalho, podendo parar.
– Interesse em falar sobre drogas, dando ao discurso uma aparência de teoria.
– Comportamento irresponsável: gastos financeiros inexplicáveis, envolvimento em brigas, comportamentos de riscos, como sexo sem preservativo e uso de injetáveis compartilhados.
– Mudança no vestuário: passam a usar roupas de mangas compridas (mesmo no calor) para esconder marcas de injeções. Não colocam roupa para lavar por não perceberem que está suja.
– Posse da droga ou de sua parafernália (papel de seda para enrolar cigarros, por exemplo).
– Aparecem sintomas físicos que sugerem a doença: tremores (em geral, passam quando se usa a droga novamente), tosse crônica, vômitos, dores abdominais, gastrite, diarreia, confusão mental, esquecimentos, convulsões, aumento de infecções.
Thelma Regina Alexandre Sales – Nutricionista e Médica – Especialista em Psiquiatria – Especialista em Terapia Nutricional/SBNPE, Nutrição Clínica/UECE e Saúde Pública/UNESCO – MBA em Gestão de Negócios/UNEC – Mestre em Meio Ambiente, Saúde e Sustentabilidade/UNEC – Professora do Centro Universitário de Caratinga. Atua em Psiquiatria no Núcleo de Apoio Psicopedagógico (NAP) do Centro Universitário de Caratinga e no CAPS infantil de Inhapim. Atua ainda em Medicina de Família e Urgência.