Margareth Maciel de Almeida Santos
Advogada e doutoranda em Ciências Sociais.
Pesquisadora CNPQ/IUPERJ
Sejamos realistas. A nossa liberdade de expressão, nesse segundo turno eleitoral está minada. Hannah Arendt relaciona a banalidade do mal com a incapacidade de pensar. O fato é que não estamos pensando.
Cada indivíduo constrói suas representações de mundo perfeito, conforme o caráter de disputa das falas apresentadas pelos candidatos tanto para governar o Brasil, quanto para governar o estado, e “ouvir passou a ser inadmissível”. Nesse contexto, uns defendem o candidato Jair Bolsonaro, e outros, o candidato Fernando Haddad. O eleitor cria a convicção de que os direitos democráticos, sociais, trabalhistas, correm sério risco caso a vitória seja do candidato oposto ao seu pensamento. Também se fala da campanha baseada em fake news e é nesse mar de contradições, que questiono:
– Qual o propósito político da violência em nosso país?
Se a população brasileira é representada pela maioria de cristãos esse sentimento de ódio, propagado de forma assustadora pelo WhatsApp e em todas as redes sociais não pode prosperar. Não é por meio da violência que os conflitos de ideias serão resolvidos.
Em uma democracia jovem como a nossa, é preciso haver diferenças de valores e crenças, para que a esperança de termos um emprego, de que nossos filhos tenham uma boa educação, de que seremos atendidos nos hospitais, seja cada vez mais presente. A esperança não pode morrer, o diálogo não pode morrer, precisamos ser mais racionais e entender que ódio é diferente de indignação, e que o Estado tem a função de priorizar aqueles que mais precisam. Quem for eleito para governar terá dificuldades e não podemos deslegitimar a democracia. Vimos que no primeiro turno os índices de votos nulos e brancos ficaram abaixo dos registrados nas últimas eleições.
Ir às urnas, respeitar o outro, faz parte de uma democracia. Segundo pesquisa do Datafolha 69% dos eleitores consideram que esta, seja a melhor forma de governo, mesmo diante desse momento político e econômico conturbado que estamos passando.
Eu li uma reportagem, em que o presidente americano Dwight Eisenhower explica que os segredos das nações que dão certo, é entender que existem dois tipos de problemas, classificando-os em urgentes e os importantes. Achei interessante, quando ele explica que “a dificuldade, é que os urgentes não eram importantes e os importantes não eram urgentes”. Na verdade, sua explicação se baseia em que deveremos “separar tempo e recursos para tratar das questões fundamentais de longo prazo e os contratempos não podem desvirtuar o que planejamos”. É preciso gerar benefícios para a sociedade.
O Brasil nunca teve a educação entre suas prioridades. Europa e EUA estavam generalizando o acesso ao ensino médio e, com isso, a desigualdade declinou na segunda metade do século passado, enquanto que, aqui, ocorreu um considerável aumento. Sabemos que em nosso país, a educação básica fracassa. O descaso do governo com a educação infantil, com as creches, violência em sala de aula, e também com as universidades são questões relevantes, que temos que estar atrelados para que possamos viver a democracia real.
Não é por meio de insultos, ódio, mentiras, que iremos traçar o nosso futuro. Precisamos inovar sempre como pessoas e consequentemente com as nossas ações, e independentemente de quem venha a se eleger, precisamos nos unir para que a classe política seja sensível às nossas demandas e colocar a dignidade e a democracia como meta.
Não existe o ditado que a “União faz a força”?
Paz e Bem!