Ildecir A. Lessa
Advogado
As agressões na campanha eleitoral de 2018 da seara das redes sociais passou para um campo perigoso, materializado em alguns dias passados, no atentado de um homem atingindo o candidato a presidente, Jair Bolsonaro, com uma faca. Bolsonaro não morreu, graças ao socorro imediato e a atuação da competente equipe de médicos do hospital de Juiz de Fora. O presidenciável continua internado em São Paulo. O autor do atentado, Adélio de Oliveira está preso e as investigações estão em andamento.
Esses fatos demonstram uma terrível realidade e as consequências são imprevisíveis. Um alerta datado de 8 de março de 2016, foi quando o ministro Marco Aurélio de Mello temia o antagonismo das ruas, nos protestos pelo impeachment no seu ápice, e as manifestações pró-PT ganharam força, depois da condução coercitiva do ex-presidente Lula. “Receio as agressões físicas. Já pensou surgir um cadáver? A história revela que quando um cadáver surge a coisa degringola”, afirmou Mello. Somente faltava a coisa externar, como foram os tiros na caravana de Lula, no Paraná. As cenas do filme vergonhoso do Brasil continuaram. A cena onde, Bettoni foi empurrado por Maninho, e bateu a cabeça num caminhão que passava no local. Teve traumatismo craniano, e precisou ser internado. Felizmente, sobreviveu.
O ataque a Bolsonaro inaugura um estado político muito mais perigoso. Afeta (ou deveria afetar) a já baixa autoestima do brasileiro, quando ainda, as cinzas do incêndio ocorrido no Museu Nacional do Rio ainda estão no ar. A tentativa de assassinar um candidato mostra a crescente onda de ódio que cegou o Brasil. Guarda alguma semelhança com o crime contra a vereadora Marielle Franco, muito embora esta última venha ainda mais carregada de dor e impotência. Ela perdeu a vida pelas mãos de um assassino que se esconde até hoje e as respostas não são dadas à altura da gravidade daquele crime.
É urgente a necessidade de estancar essa sangria, traçar uma linha divisória que nos tire dessa espiral deprimente. O Brasil está numa delicada corda bamba. A tentativa de matar Bolsonaro alterou o rumo da campanha de todos os candidatos, que mudaram suas estratégias de agressividades, em relação aquele que hoje lidera as pesquisas sem Lula na disputa. Haddad entrou na disputa na cabeça de chapa. As pesquisas vêm oscilando. Enquanto isso, o mundo tem os olhos voltados ao Brasil nesses dias importantes e já ensanguentadas eleições presidenciais, ofuscadas pela história infinita da candidatura de Lula na prisão, negada pela Justiça brasileira.
O importante jornal francês Le Monde é especialmente apocalíptico. Com o título de “O naufrágio de uma nação”, o Le Monde chega a afirmar que o Brasil “é um país que parece ter perdido o controle de seu destino”. E, acrescenta, “uma nação que se sente abandonada”. A classe política também não se salva, chamada de “tão angustiante como envelhecida, minada pela corrupção”. Mas, acreditar que a democracia naufragou é uma ofensa ao trabalho que esse país realizou para se manter dentro dos padrões das democracias mundiais. O Brasil, dentro do continente, faz parte, apesar de todos os seus problemas, dos mais bem aparelhados do continente na defesa dos direitos humanos. O Brasil não é a Venezuela e a Nicarágua e com toda a sua carga de violência ainda não chega aos índices de alguns países do continente. É um país com total liberdade de expressão e com a Justiça, com todos os seus possíveis erros, agindo e punindo os crimes de corrupção das elites políticas e empresariais como nunca aconteceu em sua história, em que a prisão era privilégio de pobres e negros. É um país com um grande debate nacional sobre a discriminação racial e de gênero. E com um jornalismo que, apesar de todas as críticas que possam ser feitas, é um dos mais vivos e responsáveis do continente. É verdade que há anos os brasileiros não estavam tão divididos por motivos políticos, agravado pelas redes sociais que ampliaram as possibilidades de debate. É um país, entretanto, que dos partidos políticos à sociedade mais madura reprovou, por exemplo, o atentado sangrento contra Bolsonaro, o candidato ultraconservador e cultor da violência.
O Brasil não é um país como um barco já naufragado e sem esperanças. É um país irritado com seus governantes, descrente com seus políticos, mas como na maior parte do mundo de hoje. Um Brasil que quer mais e o quer para todos, sem privilégios vergonhosos para os que deveriam dar exemplo à sociedade. Não é um país em agonia. É tão vivo que ainda é capaz de demonstrar sua raiva. Que o Brasil encaminhe levantando a bandeira branca da paz, colocando a reconciliação em lugar do ódio. Bandeira branca Brasil!