Criança inventa história de agressão e cárcere privado para encobrir que ‘matou’ aula e caiu de bicicleta
CARATINGA – Uma história que lembra mais aquelas fake news que assolam a internet foi registrada nesta quinta-feira (26) em Caratinga. Uma criança, 10 anos, alegou que foi agredida e mantida em cárcere privado. Segundo a vítima, o autor a abordou em um carro, cor escura, e ainda usava uma touca. O caso ainda se tornou mais complexo pelo fato de não haver testemunhas. No entanto, a Polícia Militar fez levantamentos e descobriu que a criança tinha inventado essa história para encobrir que ‘matou’ aula e ainda caiu de bicicleta.
A HISTÓRIA
Foi a avó da criança que acionou a Polícia Militar e registrou boletim de ocorrência. Ela contou que o neto chegou em casa e apresentava escoriações pelo corpo e estava muito assustado. Ela acrescentou que até a escola onde o menino estuda fez contato, pois a professora estanhou a ausência, já que ele não tem o hábito de faltar às aulas.
A criança conversou com os militares e relatou que estava passando pela rua Juca Vasconcelos, no bairro Santa Cruz, quando se aproximou um automóvel, cor escura, e que o motorista usava touca para cobrir o rosto. O menino comentou que teve o braço agarrado e foi obrigado a entrar no carro. Ele tentou se desvencilhar, mas caiu ao chão. Segundo o menino, o autor trajava blusa de frio escura, calça branca, é moreno e tem olhos castanhos.
A criança informou que foi levada para uma casa vazia e que foi amarrada e agredida com socos no rosto e nas costas. Conforme ela, o autor disse a seguinte frase: “vou voltar daqui a duas horas, se eu chegar e você não estiver aqui, mato a sua família”.
De acordo com a criança, após duas horas, o autor voltou e sem dizer nada, a deixou no mesmo local em que foi abordada. A criança disse que não foi abusada sexualmente e que não conhece o autor.
A criança foi levada para Unidade de Pronto Atendimento (UPA), onde foram constatadas escoriações no tórax, nos joelhos, costas, pé esquerdo e ainda teve dois dentes quebrados. Não foi constatada violência sexual. Após medicada, a criança recebeu alta.
Os familiares do menor não relataram histórico de brigas ou desavenças e afirmaram não saberem de quem possa ter praticado tal ação criminosa.
A reportagem do DIÁRIO DE CARATINGA esteve na casa do garoto, que foi criado com a avó desde os dois meses de vida e a chama de mãe. Assim que a reportagem chegou, o menino se mostrou assustado. Ele tentou ver quem estava chamando e, em seguida, correu para seu quarto e foi para o videogame.
A avó do menino disse também estava muito apavorada e comentou que não conseguiu dormir durante a noite passada. “Não sei como uma coisa horrível assim pode ter acontecido. Eu o levava para escola todos os dias, mas desde março ele começou a ir sozinho. Completou 10 anos e me disse que dava conta de ir para a escola, que é bem perto daqui”.
Ao falar com a reportagem, o garoto contou novamente a história, mas o tempo todo colocava a mão para tampar a boca, com vergonha dos dentes quebrados. Ontem, ele não quis ir para escola e não soube explicar porque sofreu tanto sem ter feito nada de errado.
A avó do garoto disse que o levaria ao dentista para tentar consertar os dentes. Ela avisou que o neto não iria mais sozinho para a escola. No entanto, a avó nem imagina que esse caso tomaria novo rumo ainda na tarde de ontem.
VERDADE VEM À TONA
Assim que essa notícia foi divulgada pela imprensa caratinguense, a repercussão foi imediata e muitos pais ficaram extremamente preocupados, pensando que seus filhos poderiam ser as ‘próximas vítimas’. Para dar uma resposta à sociedade e esclarecer a situação. A PM iniciou os levantamentos.
Tenente Jefferson concedeu entrevista na tarde de ontem e falou dos trabalhos da Polícia Militar. Ele disse que inicialmente deu entender que se tratava de um sequestro com cárcere privado. “Desde ontem (quinta-feira, 26), a PM permaneceu em diligências para esclarecer o que realmente havia acontecido. Hoje (ontem) por meio de conversa com a criança, familiares, profissionais da escola onde ele estuda, chegamos a verdade dos fatos”, anunciou o oficial.
Pelos levantamentos, a PM tomou conhecimento que o menor foi para a escola por volta das 12h40 de quinta-feira. “Chegando perto da escola e desistido de assistir às aulas, ele voltou para próximo de sua residência e foi brincar com um colega. Passou boa parte da tarde ali e ao andar de bicicleta teria sofrido uma queda e quebrado os dois dentes da frente, além de ter sofrido outras escoriações. A criança aguardou ali o horário que normalmente terminam as aulas para então retornar para casa. Acreditamos que essa criança com receio de ser advertida pela família, inventou essa história de que teria sido levado e agredido por um indivíduo. Conseguimos após 24 horas desvendar que não passou de uma história inventada por esta criança. Aproveitamos para tranquilizar a população que foi uma comunicação falsa de crime. Foi registrada ocorrência pelo ato infracional”, finalizou o oficial.
Ao final, tudo não passou de uma mentira bem contada para encobrir uma situação. De concreto nessa história ficaram as marcas no corpo da criança e a lição de que mentir tem graves consequências.