Ildecir A.Lessa
Advogado
Já chegando em sua fase final, a Copa está passando e a eleição vai aos poucos tomando conta da cena nacional. Essa eleição que está por vir, vai ser de um significado importante para o país. Sempre o quadro eleitoral do Brasil, centra-se ao andamento da situação econômica, positiva ou negativa, concentrando-se os votos no famoso “salvador da pátria” na área econômica, com foco na melhoria da qualidade de vida do brasileiro. Esse ano, o povo não está interessado em salvador da pátria, ou em quem vai ordenar o problema econômico, com as mesmas promessas mirabolantes, sempre atropelando as equações econômicas. Já se sabe que, o Brasil funciona é com o trabalho de seu povo, na realidade do dia a dia, com ou sem crise econômica. O resto é aquela sempre presente, política doente, carente de uma cura que, somente poderá acontecer por uma renovação no DNA político, caso contrário o cenário continuará o mesmo de sempre.
Em questão de observação do quadro econômico, pode-se buscar dados do IBGE, quanto por exemplo, ao cenário econômico na eleição do ano de 2010. No quadro daquele ano de 2010, o PIB estava 7,5%, em alta de 10,1% no PIB da indústria de transformação e expansão de 21,3% do investimento. O consumo das famílias tinha cenário de aumento de 6,9%. Na média, no ano de 2010, o salário médio ficou 6,7% acima do registrado um ano antes, já descontada a inflação. Na mesma comparação, o crédito às pessoas físicas teve expansão real de 16%, enquanto a inflação em 12 meses foi de 4,8%. Não surpreende, assim, o cenário apontado de que, naquele ano de 2010 a confiança do consumidor estivesse próxima do pico da série histórica. Todos sabem o resultado da eleição daquele ano. Com esse exemplo, pode-se concluir que, a economia sempre teve sua influência na eleição, sempre tornando o seu tema principal.
Mas isso não vai mais prevalecer. O cenário da eleição desse ano, tem a presença da revolta do eleitor, com uma certa falta de esperança na democracia, principalmente pela presença reinante da corrupção no seio político. Essa revolta, essa desesperança, não é contra a substância da democracia, mas sim contra as suas promessas não cumpridas. Por efeito de consequência, a perda geral de “paciência” com a democracia representativa não representa, assim, saudosismo por modelos antidemocráticos já superados, mas sim o autêntico desejo por uma democracia nova, melhor e mais justa. Logo, não se pode, ou não deve, enxergar o voto como uma espécie de “armadilha para otários”: algo artificial, que apenas legitima um sistema injusto e a submissão do eleitor a um modelo que o explora, e não um direito que realmente lhe dá voz e poder em um processo positivo de transformação da sociedade. Há necessidade urgente, de uma real identificação da razão da crise da democracia de hoje. É possível que, essa crise, a crise da democracia representativa contemporânea, pode-se ser identificada ou diagnosticada como decorrência de três elementos principais. Primeiro, o enfraquecimento do vínculo representativo (voto) entre o povo.
Segundo, o enfraquecimento das próprias instituições representativas: os partidos políticos, os sindicatos, o parlamento, etc. Mas essa crise, pode também ser identificada, na classe média. Desintegrada e pauperizada, a resposta desta classe – que é a base social da democracia representativa – vem na forma de uma rejeição por vezes apática e desiludida, por vezes agressiva e hostil, às instituições representativas tradicionais. Isso ocorre porque, essa classe sente desprestigiada e materialmente abandonada. E por essa razão, essa classe média passa a ver a democracia tradicional como um modelo que não a representa e que tampouco defende seus interesses. Uma das consequências disso vem a ser a ascensão do populismo, fenômeno amplamente perceptível no ocidente nos últimos anos. Com tudo isso, deve-se buscar novos caminhos na eleição desse ano, sempre com desprezo a radicalização da democracia, onde o populismo venha substituir o cidadão e o povo pelas ideias de “massa” e “multidão”. “Povo”, num contexto democrático, é uma associação com direitos e deveres e compromissos recíprocos, enquanto que uma multidão não passa de uma turba de indivíduos desprovidos de interconexão.
O populismo não se apoia na razão mas sim nas paixões, nos afetos e nos baixos instintos, sendo portanto a antítese de um modelo de organização racional de sociedade. O populismo, por fim, rejeita qualquer possibilidade de institucionalização da política, na medida em que parte do princípio de que as massas devem “se reconhecer” no corpo do chefe ou grande líder. Este é, portanto, o grande risco, na conjuntura da atual crise da democracia representativa: que o “novo” venha a ser não uma efetiva renovação da democracia, mas sim uma negação da mesma, tudo isso, em razão do atual quadro político do Brasil e as angústias que gravitam em torno da atual crise política nacional – sobretudo em relação às eleições presidenciais deste ano.