Meus caminhos por Caratinga eram sempre os mesmos, todos os dias realizava um trajeto cronometrado, prova de que o ‘piloto automático’ comandava o meu corpo sempre da mesma forma: desviando dos mesmos buracos, sempre no mesmo lado da calçada e com os mesmos rápidos e monótonos passos.
Dessa vez decidi trocar a rota e caminhar um pouco mais devagar por esta cidade. Senti que isso me faria bem. Já mantinha certo amor por Caratinga, apesar do curto tempo residindo aqui. Avancei a passos lentos, observando atentamente cada detalhe das construções ao meu redor. Algumas casas mais antigas que ainda resistiram ao tempo contrastavam com alguns prédios recém-construídos pela cidade.
Cheguei à icônica praça central, contornada por imponentes palmeiras que cercam tudo e todos que no interior da praça estavam. Ao redor dela avistei o “Palácio do Bispo”, uma admirável construção com um convidativo gramado à frente. Uma obra arquitetônica de grande beleza. Olhando a Leste, no horizonte visualizei a grandeza de uma bela rocha: a Pedra Itaúna. O cartão-postal de nossa cidade.
Sentei-me em um banco próximo ao coreto, projetado por nosso ilustre e brilhante Oscar Niemeyer a pedido do não menos ilustre Ziraldo, ao centro da praça a obra emprestava encantamento à cidade. À frente estava a majestosa Catedral, local onde curiosos visitantes entravam e seus fiéis participavam de suas costumeiras orações. Havia também aqueles que se benziam a porta, durante o trajeto que faziam às pressas ao cruzarem por ali.
Observei atentamente aquele fragmento de natureza que purificava os ares do centro da cidade, resistindo ao concreto e proporcionando paz e tranquilidade para aqueles que conseguissem apreciar tamanha beleza, tal como um farol em meio à escuridão.
Dezenas de pessoas passavam por mim. A maioria andava apressada sem ao menos observar o cenário à volta. Poucos paravam para apreciar, por motivos diversos e desconhecidos. Mal sabiam o quanto valia a pena aproveitar, mesmo que por alguns minutos, aquele espaço da nossa cidade.
Três crianças correndo chamaram-me à atenção. Alguns metros atrás uma mulher que provavelmente era mãe dos pequeninos dava longos passos na tentativa de acompanhá-los durante as aventuras. Uniformizadas e com mochilas às costas, os meninos sorriam e corriam em direção à Escola Estadual Princesa Isabel, que funciona há anos na mesma construção antiga mas que, após outra restauração, continua esbanjando sua beleza arquitetônica. A escola completa o cenário, fazendo companhia a sua vizinha Catedral.
Caratinga também é mãe de filhos ilustres como Ziraldo, Rui Castro, Agnaldo Timóteo, Mirian Leitão, Edra, Camilo e o saudoso senhor Orides, perdoem-me os que não foram citados, mas felizmente são muitos os que marcaram e marcam a história de nossa cidade.
De certa forma, eu também sou filho da “cidade das palmeiras”. Assim como tantos outros, fui adotado por esta mãe que cuida tão bem de vários filhos adotivos. Coração de mãe!
Sentia-me feliz por ter acordado a tempo de admirar as belezas da ‘minha’ cidade. Orgulhoso por ser privilegiado em habitar um lugar tão perfeito em sua simplicidade. Uma terra de pessoas humildes que lutam todos os dias por um futuro melhor. Uma cidade jovem, com 170 anos, cheia de vitalidade e histórias para contar, histórias essas que foram apresentadas a mim por seus próprios moradores. Sou grato por ter sido acolhido por uma cidade de tantas belezas, de pessoas guerreiras e simpáticas, Caratinga também se tornara minha mãe.
Daniel Paulo Fonseca Dornelas
Aluno do 2° ano do Ensino Médio da E. E. Engenheiro Caldas e do Núcleo de Ensino Professor João Martins
Blogger Literário
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