Dizem que sempre nos está reservado um final feliz. “Se não está feliz ainda é porque não chegou ao final”. Era mais um entardecer de uma sexta-feira qualquer.
Mais uma semana se encerrando. Mais uma semana em vão esperando algum sinal de vida vindo de você. Eram cinco e meia da tarde e eu estava na varanda da recepção, como fazia todos os dias, observando o sol se recolher atrás das montanhas. E, como todos os dias, meu pensamento voltava três meses atrás, quando eu ouvia sua voz ao telefone logo após o fim do expediente.
Dizem que o ser humano tende a desejar aquilo que ele não pode ter. É como se a proibição despertasse em nós um instinto de desafio, de conseguir algo que seria único pela dificuldade com que foi conquistado. Nossa mente brinca com nossos sonhos. Quando deixamos o coração falar mais alto, é certo que as chances de se decepcionar são imensas. Era mais um fim de tarde qualquer, e você me ligava, perguntava sempre as mesmas coisas, isto se tornara rotineiro, mas nunca enjoativo. A demonstração de carinho vinda de perguntas rotineiras fazia meu coração se encher de uma alegria sem par.
— Pensando nele, não é? Daniel, meu amigo na vida e no trabalho, perguntou olhando também para as montanhas onde o sol se punha.
— É tão óbvio assim?
— Tão certo como o amanhecer. Respondeu ele rindo.
— Tão certo como o amanhecer. Repeti sorrindo meio sem graça.
— Sinto falta dele, Dan, achei que passaria logo, mas já são três meses sem ouvir sua voz e ele ainda se faz presente em mim.
— Sei bem… E o que você está pensando em fazer?
— Não sei… Ele estará na cidade hoje. Acha que seria sensato procurá-lo?
— Se você acha que isso lhe fará bem, então o faça. Saiba que a apoiarei em qualquer decisão que tomar. Na pior das hipóteses, tomaremos café depois para afogar as mágoas.
Olhei para Dan com os olhos lacrimejando e o abracei.
— Vou procurá-lo. Obrigada, Dan. Se prepare para o café mais tarde. Acho que não terei tanta sorte.
— Espero que esteja errada. Tome cuidado, tá? Assim, eu saí do trabalho e fui em busca do que minha mente insistia em me lembrar a todo instante.
Inicialmente, eu andava, em poucos segundos já estava correndo de ansiedade. “Melhor ligar antes…” pensei. Então, disquei o número no celular. Chamando… Ia cortando as ruas apressadamente. Chamando… Enfim cheguei ao sinal de frente pra loja em que a razão das minhas insônias estava. Foi quando eu o vi lá dentro, meu rosto abriu-se em um sorriso repentinamente. Eu esperava ansiosamente
Os segundos passarem para que o sinal fechasse e eu pudesse chegar até você para lhe falar. Enfim, depois de uma eternidade, o sinal fechou, e eu, eufórica comecei a atravessar. Ia correndo eufórica; comecei a atravessar, quando fui interrompida. Tudo girava, não escutava mais nada. Um jovem com um capacete na cabeça chorava desesperadamente sobre mim, como se pedisse desculpas. Deitada na faixa, eu tombei com esforço meu rosto para a loja, lá estava a razão de minhas insônias, ajoelhando-se em frente de uma linda moça com um anel na mão. Até que ele olhou para fora, olhou para o celular e percebeu quem estava caída frente à loja. O ser humano tende a desejar aquilo que não pode ter. Meu sonho era chegar até ele e poder falar tudo o que me sufocava, dia após dia. Mas nossa mente brinca com nossos sonhos. O amor é de fato um contentamento descontente. As pessoas ao meu redor estavam com uma expressão desesperada. Uma parecia dizer que eu não tinha mais batimentos. Dizem que sempre nos está reservado um final feliz… esse podia não ser feliz, mas era o meu final. De fato, o ser humano tende a desejar aquilo que não pode ter. Seu amor era o que eu mais queria, e era tudo o que eu jamais teria. Lamento, Dan. Tão certo como o amanhecer, nosso café fica pra outro dia.
ANDREZA EDUARDA ARAÚJO FREITAS
Aluna do 3º período do curso de Letras- Unec