Por Fernanda Freitas, jornalista e sua filha
Homem de fácil amizade, culto, bem informado, de uma alma tão jovem que reflete a juventude em seu próprio corpo. Difícil acreditar que está prestes a completar 90 anos!
É um amante da boemia, gosta de uma boa prosa e é apaixonado por música – isso tenho que admitir que herdei dele. Seu gosto musical é altamente apurado e eclético. E vai de Altemar Dutra, Chico Buarque a Pink Floyd. Ele tanto aprecia como toca de ouvido no violão e às vezes se arrisca até no piano.
É altamente sensível, chora à toa, não só de tristeza, mas na maioria das vezes seu choro é de emoção. Não passa um só dia sem se emocionar, seja vendo um filme, contando um caso, lembrando de alguém ou até mesmo recebendo um gesto de carinho, um desenho ou abraço dos netinhos por exemplo. E eu acho que é justamente esse desabafo que o torna tão forte. Ele não esconde suas emoções, ele as deixa fluir, transparente, sem preconceito ou medo do que irão pensar dele. Esse antagonismo que é a grande marca do meu pai. O cara mais sensível e ao mesmo tempo mais forte que eu conheço. Forte como poucos: afinal suportar os duros golpes que ele já suportou e chegar até aqui são, saudável, cheio de energia e ainda com um sorriso no rosto, de fato não é para qualquer um.
Ele tem alma de artista. É um artista nato e teve o privilégio de aprimorar dom que lhe foi dado e marcar a vida de tantas pessoas através da fotografia. Presenciou e registrou fatos históricos, eternizou inúmeros momentos pessoais e sua assinatura emblemática ilustra imagens de geração a geração. Seu olhar sensível lhe rendeu prêmios. Foi reconhecido por seu talento, por seu trabalho, por seu brilho próprio.
Além de artista ele empreendeu. Tinha visão além de seu tempo e com isso fez história. Com seu olhar apurado descobriu um talento que se viria se tornar Miss Brasil. Não bastou encontrar a candidata. Ele foi além. Abraçou a causa e articulou todo o processo: desde convencer os pais dela da ideia, até inscrever e acompanhar a bela jovem caratinguense Stael Abelha, se tornar Miss Minas Gerais e posteriormente Miss Brasil.
Sempre se dedicou de corpo e alma a tudo que se propôs a fazer. Promoveu diversos concursos de beleza em Caratinga e Barbacena. Foi um dos presidentes mais atuantes do Esporte Clube Caratinga e chegou a trazer o time do Flamengo para jogar na cidade. Um feito memorável para aquela época. Conquistou muitos e grandes amigos e foi perdendo vários deles ao longo da vida, quisera Deus que a longevidade fosse privilégio seu.
É um pai maravilhoso… Deus lhe coroou com 6 filhos em seus dois casamentos. É extremamente amoroso, preocupado e sempre colocou o bem estar e felicidade de seus filhos em primeiro lugar. Não mede sacrifícios para ver um sorriso no nosso rosto. Ele era o ídolo do meu irmão Anderson, que dizia que Deus teria que levá-lo primeiro, pois não suportaria viver algum dia sem nosso pai. Deus assim o fez e levou o filho primeiro que o pai. Apesar da irreparável dor meu pai seguiu em frente, tendo sempre ao seu lado minha mãe Leda: esposa e companheira inseparável. Juntos eles vêm superando essa dor com muita força.
Força que inspira! Que nos enche de esperança e gratidão. Louvo a Deus hoje e todos os dias por preciosa vida e por ter o privilégio de ter um pai como o meu. Agradeço ao criador por lhe presentear com longos dias, saúde, paz, união, amigos, família, filhos, netos, bisnetos e muito amor.
Neste dia 31 de março, meu pai Onair de Freitas, nosso contador de histórias, completa 90 anos bem vividos! Peço a Deus apenas que Jesus permaneça habitando em seu coração e nos dê a graça de escrever muitos outros capítulos felizes no livro de sua vida. Para que ele ainda tenha muitas histórias a contar.
PASSEIO DA SAUDADE
Por Augusto Ferreira Neto, jornalista e advogado
“Estou circulando pela avenida Benedito Valadares, lá pela década de sessenta, visitando os meus queridos e saudosos amigos. Na semana passada relembrei-me dos Auads, do Onair de Freitas, da Stael Abelha, de Dona Glorinha, do João Pena e do Agnaldo Timóteo.
Dos Auads o meu coração pula para o grande e querido amigo, ONAIR FREITAS. O dono do Foto Onair. Parada minha obrigatória para saber das fofocas na sociedade e no futebol. Onair era uma pessoa sempre muito bem informada. Circulava em todas as rodas e era querido e respeitado por todos. Onair se revelou um repórter fotográfico extraordinário, um amigo fidelíssimo e um esportista terrivelmente apaixonado. O Esporte Clube Caratinga era a sua paixão. Tanto torcia pelo time, dava palpites e se entregava às tarefas de granjear recursos para ajudá-lo a ter grandes jogadores e boas vitórias que acabou se tornando um de seus presidentes mais atuantes.
Se Caratinga pode orgulhar-se de ter tido uma Miss Brasil – a nossa lindíssima Stael Abelha – o mérito maior desta façanha se deve ao Onair de Freitas, que ao lado do João Pena, apaixonado fã da Stael, lançaram-na candidata Miss Minas Gerais e em seguida no concurso nacional de Miss Brasil.
O início desta história foi assim: ao fotografar Stael de maiô em seu estúdio, Onair ficou maravilhado com a plástica de Stael e logo a imaginou uma séria concorrente ao ambicionado título de Miss Brasil. E ele e João Pena, com as amizades que tinham com jornalistas em Belo Horizonte, logo se puseram a campo para inscrevê-la no concurso, depois de enfrentarem e vencer terrível resistência dos pais de Stael. Pude presenciar a eleição de Stael, no Rio de Janeiro, pois tive que acompanhar os meus dois colegas de jornal, que não admitiam que o diretor do jornal que lançara Stael ficasse ausente do evento em sua etapa final. Salvo engano outros amigos de jornal estiveram lá conosco, dentre os quais a turma da Rádio Caratinga e o meu querido amigo Willer do Carmo. Lembro-me bem que o nosso grande aliado no Rio de Janeiro foi o Ziraldo que nos acolheu e nos orientou antes, durante e depois da eleição de Stael. A promoção do Concurso para eleição da Miss Brasil era dos Diários Associados e o Ziraldo naquela época fazia parte do seleto grupo de jornalistas que dirigia a revista “O Cruzeiro”, órgão dos Associados que comandava o concurso.
Mas o Onair possuía também uma paixão musical. Ele era um fã ardoroso do Altemar Dutra, seu velho amigo de Aimorés. Altemar estava começando a carreira que se tornou muito famosa mais tarde. E já naquela época Onair exaltava as suas qualidades de seresteiro de voz admirável. Onair transferiu grande parte de sua admiração por Altermar Dutra para enaltecer também a voz de um jovem cantor que surgia nos programas de auditório do João Dornelas, na Rádio Caratinga, que era o Agnaldo Timóteo.”
Artigo publicado no jornal Estado de Minas pelo jornalista da capital mineira, Augusto Ferreira Neto.