DA REDAÇÃO – Citado na entrevista do professor e jornalista Sávio Tarso, como o jornal que mudou os rumos da imprensa, mas não de forma lisonjeira, pois aderiu às notícias curtas, com pouca apuração, com escrita absolutamente simples e de fácil leitura, The New York Sun cometeu, talvez, a maior fake news da história ao declarar em editorial que Papai Noel existia, mas houve uma boa causa para isso.
HISTÓRICO
Fundado por Benjamin H. Day, o jornal chegou às bancas pela primeira vez no dia 3 de setembro de 1833, ao preço de 1 centavo. Nascia a penny press, ou seja, os jornais populares, que se espalharam pelo mundo a partir do Sun.
Com o slogan “It Shines for All” (“Ele Brilha para Todos”), o diário matutino existiu até 1950. Em 2002, um grupo de empresários criou um jornal homônimo, que durou até 2008. Hoje, está somente na internet, tem o mesmo logotipo e slogan do original.
A trajetória do velho The New York Sun traz histórias curiosas, a mais famosa é a do editorial intitulado “Is There a Santa Claus?” (“Papai Noel existe?”). O editorial foi publicado na edição de 21 de setembro de 1897, e é muito conhecido e estudado nas faculdades de jornalismo dos Estados Unidos.
Diz a lenda que a filha do médico Philip O’Hanlon, Virginia, perguntou ao pai se o Papai Noel existia, de verdade. Philip sugeriu que ela escrevesse ao The Sun para ter uma resposta, assegurando: “Filha, se está no The Sun, é verdade!”.
A carta foi uma oportunidade para o editor Francis Pharcellus Church. Ele tinha presenciado o horror da Guerra Civil Americana de perto, como correspondente do jornal no front, e aproveitou a dúvida de Virginia para voltar a acreditar na própria humanidade.
O editorial é o mais reproduzido em jornais de língua inglesa da história.
Todo ano, a carta de Virginia e a resposta de Francis são lidas em celebração de natal na Universidade de Columbia, onde o jornalista do The Sun estudou.
O EDITORIAL
Foi pouco antes do Natal de 1897 que Virginia escreveu para o jornal The Sun perguntando se Papai Noel existia. O jornal publicou sua carta e a resposta do editor Francis Church. Foi um sucesso tão grande que o jornal reproduziu-as durante os anos seguintes, na época do Natal, até o seu último número em 1949. O fato se tornou famoso na imprensa mundial, virando livro com recorde de vendas nos Estados Unidos.
Editorial do The Sun, 1897
Sim, Virgínia, Papai Noel existe!
É com enorme prazer que respondemos à carta abaixo, aproveitando para expressar nossa enorme gratidão em reconhecer sua autora como leal amiga do The Sun.
“Prezado Editor, tenho 8 anos. Alguns de meus amiguinhos dizem que não existe Papai Noel. Meu pai costuma falar: Se estiver no The Sun, então será verdade. Por favor, me diga a verdade: Papai Noel existe?” Assinado: Virginia OHanlon.
“Virginia, seus amiguinhos estão errados. Provavelmente foram afetados pela descrença de uma época em que as pessoas acreditam em poucas coisas. Só acreditam naquilo que veem. Elas acham que o que não compreendem com suas cabecinhas não pode existir. Todas as mentes, Virginia, sejam as dos adultos ou das crianças, são limitadas. Neste nosso grande Universo, o homem é um mero inseto, uma formiguinha, quando seu intelecto é comparado com o infinito que o cerca ou quando medido pela inteligência capaz de entender toda a verdade e conhecimento.
Sim, Virginia, Papai Noel existe! Isso é tão certo quanto a existência do amor, da generosidade e da devoção e você sabe que tudo isso existe em abundância, trazendo mais beleza e alegria à nossa vida. Ah! Como seria triste o mundo sem Papai Noel! Seria tão triste quanto não existir Virginias. Não haveria então a fé das crianças, a poesia e a fantasia para fazer a nossa existência suportável. Não teríamos alegria nem prazer, a não ser com os nossos sentidos: seria preciso ver e tocar para poder sonhar. A transparente luz das crianças, com a qual inundam o mundo, seria apagada.
Não acreditar em Papai Noel!… É o mesmo que não acreditar em fadas!
Você poderia pedir ao seu pai para contratar muitos homens para vigiar todas as chaminés na véspera de Natal e assim pegar Papai Noel; mas, mesmo que você não o visse descendo por elas, o que isso provaria? Ninguém vê o Papai Noel, mas não há sinais de que ele não existe.
Você por acaso já viu fadas dançando no jardim? Claro que não, mas não há provas de que elas não estejam por lá. Ninguém pode conceber ou imaginar todas as maravilhas do mundo que nunca foram vistas e que nunca poderão ser admiradas. As coisas mais reais são aquelas que nem as crianças nem os adultos podem ver.
Se quebramos o chocalho de um bebezinho, poderemos ver o que faz aquele barulho lá dentro, mas existe um véu cobrindo o mundo invisível que nem o homem mais forte, nem mesmo toda a força de todos os homens mais fortes do mundo reunida poderia rasgar. Somente a fé, a poesia, o amor e a fantasia podem abrir essa cortina e desvendar a beleza e a glória celestiais que existem por detrás dela. Será que tudo isso é real? Ah, Virginia, em todo esse mundo não existe nada mais real e duradouro.
Se existe Papai Noel? Graças a Deus ele vive e viverá para sempre.
Daqui a mil anos, Virginia, e ainda daqui a dez mil anos ou dez vezes esse número, ele continuará a fazer feliz o coração das crianças.”
Francis Church