José Celso da Cunha
Do lado oposto, a sudoeste da Grande Praça, na frente da colunata, alinham-se dezenas das mesmas esfinges com cabeça de carneiro e corpo de leão, simbolizando o deus Amon, que, antes da construção do Primeiro Pilono, faziam parte do caminho que ligava a entrada do Templo de Amon ao atual Segundo Pilono. As duas últimas colunas localizadas nas proximidades do Primeiro Pilono apresentam-se ainda incompletas, sem o desbaste do acabamento final que lhe daria a forma tradicional papiriforme.
Como toda essa parte da colunata, junto ao pilono, encontra-se ainda sem arremate, até mesmo na parte superior para a constituição da cornija, presume-se que as colunas originais construídas por Ramsés II tenham sido retiradas para a construção do Primeiro Pilono, no século VIII a.C. Essa parte externa da coluna do lado sul, então, não foi finalizada, assim como o Primeiro Pilono, que permaneceu inacabado a ponto de sua rampa ficar ainda à disposição para os retoques finais das paredes. Esse fato é também interessante, pois permite conhecer as técnicas de arremate empregadas pelos construtores dessa época, que faziam efetivamente o acabamento de suas obras de cima para baixo para aproveitar a sequência de retirada dos andaimes ou das rampas auxiliares. À medida que os trabalhos nos níveis superiores fossem considerados terminados.
No final do corredor central, duas estátuas colossais de Ramsés II, dispostas frontalmente na entrada do Segundo Pilono, medindo aproximadamente 15 m de altura, fazem parte do conjunto arquitetônico que antecede a Sala Hipostilo. A estátua mais bem conservada é aquela localizada ao norte, à esquerda da entrada do portal e que faz parar involuntariamente os visitantes do Templo. A presença do rei é contagiante pelo seu gigantismo e chama atenção também pela qualidade da escultura em granito vermelho de Assuam, que ressalta detalhes expressivos de suas vestes apesar da rigidez do padrão dos traços da estatuária egípcia dessa época. O faraó apresenta-se na posição mumiforme, com os braços cruzados ao peito, segurando o chicote real. Aos pés dele, atrelada às pernas até na altura dos seus joelhos, o artista entalhou sua filha, a princesa Bent’anta, numa belíssima escultura medindo cerca de 10% da altura do faraó e cujo riso discreto e o semblante sereno parecem seguir a mesma direção fixada pelo olhar do pai, do alto. Apesar da diferença descomunal entre as duas figuras, em que o faraó destaca-se sobre todas as outras coisas divinas da Grande Praça, a presença da filha representa talvez o seu lado humano, se é que isso pode ser dito de um deus vivo. Nesse caso, talvez, a pequena princesa representasse alguma referência com a perenidade da sua dinastia.
[1] *José Celso da Cunha, engenheiro civil, doutor em Mecânica dos Solos-Estruturas pela ECP- Paris, escritor e ex-professor da Escola de Engenharia da UFMG. É membro da ABECE, do IBRACON, da Academia Caratinguense de Letras e membro correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni. E-mail: [email protected].
[1] **Com base na série do autor: “A História das Construções” ― www.autenticaeditora.com.br.