Fisioterapeuta explica fratura de Neymar e destaca que lesão também afeta atletas de outros esportes
“Fraturar um membro é uma situação que pode acontecer na vida de qualquer ser humano, seja ele atleta ou não, nesses casos, a maior incerteza é o que vamos fazer para nos recuperar, e saber como o corpo ficará depois do ocorrido”. As palavras são do fisioterapeuta e quiropraxista Duany Vieira Lopes, responsável pela equipe do Boston City FC – Brasil (Manhuaçu). O DIÁRIO SAÚDE convidou Duany para falar sobre um dos assuntos mais comentado nos últimos dias: a fratura incompleta no quinto metatarso do pé direito de Neymar. Mas, antes de entrar nesta questão, Duany explica sobre as fraturas, os casos mais comuns e o tratamento recomendado para estes casos.
ENTENDENDO AS FRATURAS
Segundo o fisioterapeuta, o tipo mais comum de fratura é aquela que possui uma linha única entre as partes quebradas, formando uma rachadura, porém, não altera os contornos do osso. “As fraturas mais graves são aquelas que, além de afastar uma parte da outra, causa um desvio entre elas, favorecendo o desalinhamento do osso. Existe também a fratura exposta, onde há o rompimento da pele e outros tecidos moles, como músculos, ligamentos e tendões. A possibilidade de um mesmo osso ser quebrado mais de duas vezes é grande. Ossos compridos e mais finos são fáceis de serem fraturados, já os largos e mais curtos precisam de traumas maiores”.
Duany destaca que o tratamento depende de cada tipo de fratura, considerado que nos casos mais graves e na exposta, é necessária realização de cirurgia para “colocar tudo no lugar”. “Casos mais leves, onde não acontece o desvio ou a separação considerável, o método de tratamento é mais conservador, usando somente a imobilização da região lesionada (gesso ou órteses). Após a fratura do osso entra o tratamento fisioterápico, porque, quando o paciente realiza a cirurgia, o fisioterapeuta ajuda no tratamento, controlando o inchaço e dores através de algumas manobras de drenagem linfática, terapias manuais, mobilizações segmentares, liberação miofacial, massagens e aparelhos de analgesia e anti-inflamatório favorecendo a aceleração cicatricial tecidual e óssea, levando a formação do calo ósseo, devolvendo a qualidade de vida ao seu paciente”.
Além disso, nos casos mais comuns de fratura, geralmente, o indivíduo sofre de rigidez muscular, perda de massa muscular e fraqueza muscular. “O profissional de fisioterapia ajudará na recuperação das funções da região afetada, favorecendo a amplitude dos movimentos, e a musculatura envolvida para o membro poder voltar ao normal, já que permaneceu imobilizado durante um longo período. O tempo de tratamento depende de como o corpo do paciente responde às atividades proporcionadas pelo fisioterapeuta”.
O CASO DE NEYMAR
“No momento estamos vivenciando um assunto mais badalado nas redes sociais e nas TV’s, ou seja, perante todas as mídias, o assunto sobre a fratura do quinto metatarso do pé direito do nosso melhor jogador da Seleção Brasileira e atacante do Paris Saint Germain (PSG) que é a camisa 10 Neymar Júnior”, cita Duany, esclarecendo que embora seja comumente associada aos jogadores de futebol que atuam na grama, a lesão também afeta atletas de outros esportes, “basta o pé ficar fixo e o corpo girar”.
“Esta condição pode surgir ao prender pé através do calçado como nas chuteiras com travas, ou mesmo com o tênis numa quadra onde o corpo gira para mudar de direção ou fazer uma mudança de rota e acaba causando a torção”, explica.
Duany também afirma que esta lesão ocorre, geralmente, ao redor do tornozelo, que funciona principalmente como uma “dobradiça”, para permitir movimentos “para cima e para baixo no pé e em menor amplitude, para dentro e para fora”. “O que acontece nas exceções é a energia ser tão grande que os ligamentos conseguem se esticar sem romper, mas o tendão não. Aí ele puxa literalmente o osso que está inserido no tendão. A lesão também poderá ocorrer dependendo da energia colocada com pés, correndo de forma repetitiva ao longo do tempo ou da força súbita por um trauma direto (exemplo: um pisão do adversário). Normalmente, quando o dedo do pé fica preso, a lesão é súbita. Ela é mais comumente vista em atletas que jogam em superfícies artificiais, que são mais difíceis de escorregar do que as superfícies de grama, onde grampos ou travas de chuteiras são mais propensos a prender. Também pode acontecer em superfícies rígidas, especialmente se o tênis usado não fornecer suporte adequado para o pé”.
Fazer cirurgia ou não? O fisioterapeuta explica que apesar da fratura ser uma situação que pode acontecer com qualquer pessoa, no caso de um atleta de alto rendimento, que precisa lutar contra o tempo é necessária uma decisão importante. “Estamos diante de um quadro de fratura incompleta, que normalmente trata-se da maneira conservadora, que é imobilizar e aguardar a consolidação. Mas, tratando-se de um atleta de alto nível, com uma competição da demanda de uma Copa do Mundo, esta definição da indicação cirúrgica é uma decisão entre o atleta e evidentemente o departamento médico que está diretamente ligado ao atleta. Por quê? Porque esse tipo de fratura, às vezes, pela demanda que o atleta tem, pode não consolidar-se de uma maneira bem firme e vir a sofrer a chamada refratura. Daí a fixação com o parafuso dá maior estabilidade, maior segurança”.
Ele enfatiza que atletas de alto rendimento são constantemente expostos a “mudanças bruscas de direções de corridas, interrupções não programadas de movimentos, seguidas por movimentações em velocidades elevadas, saltos com aterrissagens instáveis, dentre outras inúmeras atividades que geram um aumento do impacto articular e situações de risco de lesão, podendo levar recidivas”.
O que são os ossos metarsianos?
Os ossos metatarsianos são os ossos longos no meio do pé. Cada osso metatarsiano tem uma base, um eixo, um pescoço e uma cabeça. O quinto metatarsiano é o último osso no exterior do pé, e a maioria das quebras do quinto metatarsiano ocorrem na base.
A base do quinto metatarsiano é dividida em três zonas de fratura. Quais são elas?
As fraturas da zona 1 são fraturas de avulsão ou tração, que ocorrem na ponta da base do quinto metatarsiano. Essas fraturas são normalmente tratadas sem cirurgia usando uma órtese, bota ou sapato de sola dura. Essas fraturas tendem a curar dentro de seis a oito semanas. As fraturas da zona 2 são tipicamente conhecidas como fraturas de Jones. Elas ocorrem na interseção entre a base e o eixo do quinto metatarso. Essas fraturas são conhecidas por terem maior chance de não cicatrizar (não união). Eles também estão em risco de refratura mesmo após a cura. O tratamento cirúrgico é comumente realizado para essas fraturas. As fraturas da zona 3 ocorrem ao longo do eixo do quinto metatarsiano. Estas são tipicamente fraturas de estresse em atletas. Longos tempos de cicatrização e risco de refratura podem ser razões para o reparo cirúrgico.
Fratura das zonas 2 e 3 na base do quinto metatarsal: indicação de cirurgia pode ser realizada para ajudar o osso a consolidar numa posição correta, e o atleta retornar para a função completa. A cirurgia pode reduzir o tempo necessário de imobilização e melhorar as chances de cura em comparação com o tratamento não cirúrgico. Além de começar a fisioterapia precocemente. No caso de Neymar, muito provavelmente a decisão de operar nos faz pensar que estamos falando de uma zona 2 ou 3, e em um jogador de milhões não se pode dar o luxo de correr o risco de não consolidação.
Qual a importância da fisioterapia na lesão deste atleta?
No sentido amplo da palavra, fisioterapia é a ciência que estuda os movimentos do corpo humano. Ela atua no tratamento e na prevenção de uma série de condições a partir de recursos físicos do próprio corpo. O profissional fisioterapeuta é capaz de diagnosticar e de tratar distúrbios biomecânicos e distúrbios nas funcionalidades humanas, sejam estes relacionados a órgãos ou a sistemas. Pacientes com lesões e disfunções podem, portanto, serem consultados e tratados por fisioterapeutas, assim como ações preventivas podem ser tomadas.
A fisioterapia é muito utilizada no campo esportivo, de forma a tratar e prevenir lesões. Pessoas acidentadas, portadoras de distúrbios neurológicos, cardíacos e respiratórios podem também ser muito beneficiadas pela prática da fisioterapia. Além de ajudar no tratamento e na prevenção de uma série de condições, a fisioterapia dá mais consciência corporal a uma pessoa, sendo algo bastante recomendado durante a gestação, de forma a evitar problemas de coluna e nas articulações.
Pessoas que sofreram algum trauma, luxação ou lesão também necessitam passar por um fisioterapeuta, assim como indivíduos que serão ou foram submetidos a procedimentos cirúrgicos. Conversar com um profissional é, talvez, o primeiro passo para a decisão pelo fisioterapeuta.
Na reabilitação deste atleta a fisioterapia é essencial. Ela é capaz de tratar, fortalecer e obter a sua manutenção física. O trabalho é voltado para reintegrar o atleta em um curto espaço de tempo após sofrer a lesão. Por isto terá um início precoce na fisioterapia para evitar perda significativa da massa muscular e propriocepção dos movimentos realizados no seu trabalho, o qual exige muito, devido o número de movimentos e descarga de peso realizado todos os dias.
É importante ressaltar que o paciente e o profissional devem ser claros quanto à recuperação, pois o indivíduo deve explicar a situação completa do seu caso, para que o profissional consiga obter sucesso em sua reabilitação. Por isso, procure sempre profissionais de sua confiança, e que sejam especializados no assunto.