Psicóloga faz reflexão sobre campanha dedicada à conscientização e à prevenção em relação à Saúde Mental
Com o propósito de compartilhar com toda a sociedade e principalmente os leitores do DIÁRIO DE CARATINGA, acerca da campanha Janeiro Branco – Quem cuida da mente, cuida da vida; que está em vigor nesse mês e já alcança muitas cidades por todo o país, a reportagem convidou a psicóloga especialista em Saúde Mental, Rejane Nascimento, para apresentar o objetivo e a importância desse projeto, sob o olhar da psicologia.
JANEIRO BRANCO
A campanha Janeiro Branco foi idealizada no estado de Minas Gerais no ano de 2014, pelo psicólogo Leonardo Abrahão. O mês de janeiro foi escolhido para representar a campanha justamente por ser ‘culturalmente favorável’, como diz o próprio idealizador. “É um mês carregado de simbolismos por trazer a sensação de um novo começo, novos planos o que pode ajudar muitas pessoas a olharem para si mesmas, percebendo muitas vezes suas condições existenciais, suas disposições para a vida e para novos projetos. Vem também, revelando as impotências e as dificuldades pois, é um mês onde as pessoas fazem um balanço daquilo que foi e o que deseja agora. Deste modo, traz uma visão maior em relação às condições em que vivem, pensam e sentem, revelando as realidades objetivas e subjetivas em que estão vivendo ou aceitando viver, sendo este, portanto, um momento ideal para reflexão e busca de ajuda profissional para cuidar da mente. Quando o idealizador pensou na cor branca, a ideia foi trazer a reflexão sobre um papel em branco, no qual podemos escrever, desenhar uma nova história, no caso da saúde mental, sem os tabus e preconceitos que a cercam”, explica.
Conforme Rejane, a campanha foi projetada com a finalidade de chamar a atenção da sociedade para a importância dos assuntos relacionados ao universo da saúde, em especial, da saúde mental, movimentando a população, psicólogos, médicos psiquiatras, professores e outros envolvidos, em favor da necessidade de debater, conhecer e encontrar melhores soluções acerca do tema.
Mas, o que é saúde mental?
“Quando falamos em saúde mental, estamos dizendo de um estado de equilíbrio que proporciona bem-estar ao indivíduo e à sociedade como um todo. É um termo usado para descrever um nível de qualidade de vida cognitiva ou emocional, ou ainda, a ausência de uma doença mental. Na perspectiva da psicologia positiva, saúde mental é a capacidade que um indivíduo tem de apreciar a vida e procurar um equilíbrio entre as atividades e os esforços para atingir a resiliência psicológica, ou seja, a capacidade de uma pessoa lidar com seus próprios problemas, vencer obstáculos e não ceder à pressão, seja qual for a situação”, explica Rejane.
Para Rejane, existe um “grande tabu” que norteia o termo saúde mental, no quesito da psicologia. “Se buscarmos na história, iremos compreender o motivo que leva algumas pessoas, ainda nos tempos modernos, a acreditarem que ‘ir ao psicólogo é coisa de louco’. Esse tabu é oriundo de um período onde o ‘louco’ era retirado da sociedade como forma de higienização, sendo isolado em manicômios para não incomodar a população. Assim, em razão dessa fama desrespeitosa, a compressão do trabalho do psicólogo se inferiorizou e os diversos ramos de atuação do profissional da psicologia na vida do ser humano se reduziram à crença de que esse profissional serve para “cuidar de loucos”, o que é uma grande distorção da verdade. Embora a atuação de um psicólogo não se reduza a cuidar de “loucos”, ainda existe esse preconceito por parte de muitos. Em contrapartida, há inúmeras ações, campanhas e movimentos no sentido de inserção desses indivíduos na sociedade”.
Na opinião da psicóloga, muitas vezes “somos negligentes” e o psicólogo vem cuidar daquilo que faz com que “nos sintamos bem ou mal”. ‘Por isso, precisamos falar sobre saúde mental, e principalmente desconstruir essa ideia de que se submeter ao tratamento psicológico significa que é uma pessoa “louca”, que leva muitos pacientes a terem vergonha de dizerem que fazem psicoterapia. Buscar ajuda psicológica não significa perder o controle de sua vida, pelo contrário, significa manter-se no controle, significa compreender a fragilidade pessoal para lidar com determinadas situações de conflito e buscar formas de conviver bem com isso, ou até mesmo solucionar”.
Na atualidade diversas estatísticas apontam para um aumento de casos como: depressão, ansiedade, fobias, pânicos, entre outras doenças que surgem como forma de respostas físicas e mentais, causadas por estímulos externos para enfrentarmos as exigências do meio (acontecimentos traumáticos, rotinas aceleradas, frustrações, preocupações, etc). Rejane destaca que tais diagnósticos causam grande desconforto para as pessoas e não necessariamente se enquadram no diagnóstico de ‘loucura’, como no dito popular. “Esse aumento considerável, nos convida a reflexão de que é preciso cuidar também de aspectos mentais e emocionais de nossa vida. Por isso, especialmente nesse mês de janeiro, profissionais da saúde e envolvidos, pretendem psicoeducar a sociedade, falar muito sobre o assunto de forma que traga mais compreensão e esclareça dúvidas que possam surgir”.
Para Rejane, a “tão cobiçada” qualidade de vida, que muitos pensam ser impossível de atingir, é um fator que merece atenção de todos. “Ela está presente em pequenas mudanças ou melhoramentos diários e muitas vezes estão ao alcance de todos, independentemente de cada realidade. Quando o indivíduo se preocupa em viver de forma saudável, automaticamente evita doenças, melhora aspectos físicos e mentais em sua vida. A campanha, dentre outros propósitos, traz um “despertar” como forma de ferramenta para conscientizar as pessoas sobre a relevância de manter sadio não só o corpo, mas também a mente”.
A especialista em Saúde Mental finaliza com a mensagem de que o Janeiro Branco nos convida a nova vida, a pausar, trazendo assim a introspecção e a autoanálise, pois muitas vezes histórias precisam ser “reinterpretadas”, dando novo sentido, ou seja, “uma ressignificação”. “Ressalto que a campanha Janeiro Branco, com adesão em diversas cidades do país, se estende também à outros temas como: sensibilização das mídias, instituições sociais, públicas e privadas, bem como dos poderes constituídos, públicos e privados, acerca da necessidade de aplicação de projetos estratégicos, apoio do governo em benefício da sociedade, iniciativas socioculturais empenhadas em valorizar e atender as demandas relacionadas ao universo da saúde mental, seja no âmbito público e/ou privado, no coletivo ou individual. Quem cuida da mente, cuida da vida”.
Com o intuito de trazer uma reflexão pessoal sobre sua saúde mental, segue abaixo alguns questionamentos, que podem colaborar para a iniciativa de práticas saudáveis no cotidiano, afinal, muitas mudanças no mundo precisam iniciar em nós mesmos, precisamos trabalhar essa capacidade de nos colocar frente a frente com a nossa própria consciência, e não nos perguntar o que espero da vida, mas sim: O que a vida espera de mim? E mais:
- Você sabe lidar com suas emoções?
- Você sabe reconhecer na sua vida os momentos que acarretam o estresse?
- Como lida com sua ansiedade? Consegue reconhecer seus momentos de ansiedade?
- Tem hábito de adiar decisões importantes?
- Como lida com as perdas?
- Como enfrenta seus medos?
- Quando está diante de um problema, tem dificuldade de ver novos caminhos, ou enxergar outras saídas?
Como lida com as situações que tem que fazer escolhas?