A união duradoura de dona Bárbara, 102 anos, e senhor Torgamindo, 107
CARATINGA- Amanhã se comemora o Dia dos Namorados. Embora, a data seja mais lembrada pelas pessoas que ainda não chegaram ao casamento, muitas pessoas dizem que os casados, são eternamente namorados. Para homenagear esta data, o DIÁRIO DE CARATINGA foi até a casa de Bárbara Melo da República, 102 anos e Torgamindo da República, 107 anos.
Eles já haviam sido destaques de uma reportagem do DIÁRIO, em novembro de 2015, quando foram homenageados pelo Centro Universitário de Caratinga (Unec). Naquela data, dona Bárbara estava acompanhada do filho Benedito da República, à época com 81 anos. Ele fez questão de falar da rotina dos pais e dos hábitos que contribuíram para uma vida longa. “Uma família que costuma alcançar uma idade mais avançada, modéstia a parte. Isso é uma coisa muito complexa, muito relativa, porque têm pessoas aí que morrem com 20 anos, 10 anos, é um mistério. Eles sofreram na vida, comendo canjiquinha pura, lutando, brigando. Papai andando de bicicleta de Bom Jesus do Galho pra vir para aqui vender loteria. Não foi brincadeira. Mas, acho que vai mais da qualidade de vida, do jeito de viver diferente. Papai não fuma, não bebe e não joga. Eu também não bebo e não fumo. Gosto muito é de música, sou apaixonado com música e as coisas boas. Papai também gosta de música e até toca um pouquinho de sanfona”.
Os hábitos saudáveis passaram de pais para filho. Benedito ainda destacou que com ele não há tempo ruim e seguindo a típica vida de zona rural, respira o ar do campo logo cedo. Assim, ele pretende chegar à idade alcançada pelos seus pais. “Papai não está paralítico hoje porque andar de bicicleta igual a ele poucos faziam. Ele fazia aquele trajeto todo dia de bicicleta, estrada de chão. Isso é muito interessante, a questão física, também sou aquele cara que levanta 6h e quando a minha esposa levanta às 10h, já fiz biscoito, coei café, molhei planta, lavei galinheiro, botei para quebrar mesmo, porque minha raça, meu sangue é assim. Tenho uma escada de 17 degraus e uma de 15, eu subo aquilo umas 50 vezes por dia. Quero chegar lá, se Deus quiser”.
O casal centenário tem 85 anos de matrimônio. Dona Bárbara está acamada e recebe cuidados especiais, para suas necessidades básicas. Já seu Torgamindo, apesar da idade, caminha para todo lado e não dispensa uma boa prosa. Em conversa com a Reportagem, ele brincou: “Eu ganhei uma idadezinha de rapaz”.
Seu Torgamindo ressaltou que sempre foi muito trabalhador, como é possível perceber quando questionado sobre quando conheceu dona Bárbara. “Não tive prazo de namorar. Rapaz sem prazo; trabalhava que nem um ‘animal’ doido. Ganhei isso aqui (casa) com trabalho, não tem um tostão de pessoa que entrasse pra me ajudar. Eu trabalhei de tudo, na fazenda, na roça, capinando, no engenho moendo cana a noite inteira, de muita coisa”.
Mas, com seu Torgamindo, a conversa é muito fácil. Logo, ele muda o assunto e mostra com convicção suas impressões sobre a política no País. “A vida ficou muito séria. Você não pode confiar mais. Tá uma coisa séria, agora mesmo estava acompanhando na televisão, essa brigada dessa gente aí com essa política. Antigamente não era assim. Teve (sic) um governos que foram bons demais, o presidente Getúlio Vargas era uma grande pessoa. José Sarney foi bom também. Fui veterano de guerra, conversei com o presidente Getúlio Vargas, nós ganhamos a guerra de 1932 e eu não cheguei a ir lá. Estava partindo pra lá, faltando uma hora pra viajar pro batalhão, pra entrar na tropa, chegou o telegrama: ‘Acabou a guerra’. Mas, deu pra conversar com ele, viramos amigão (sic). O homem trabalhou, ajudou bastante as pessoas pobres. Aqui tinha umas cinco fábricas; acabou tudo. Está uma situação muito ‘magra’, uma coisa terrível. Está tudo errado. O caminho está todo errado. É aqui, mas eles estão guiando pra cá”, ponderou.
Sobre a idade centenária, ele se mostrou agradecido e destacou novamente o quanto trabalhou. E também mostrou o quanto é atualizado e atento às questões que envolvem o Brasil, acompanhado os noticiários pela televisão. “Eu já estou cansado de tanto trabalhar. Agradeço demais a bondade de Deus, da gente ainda estar vivo. Trabalhei tanto, que o médico me corrigiu. Tocar bicicleta, viajar. Morei no Bom Jesus do Galho, vinha à noite, saída daqui às 22h30 para ir para Bom Jesus, passava dentro de mata por aí a fora, a madrugada eu estava nas estradas, ia buscar bilhete. Meus bilhetes saíam prêmio à vontade, diariamente, espalhei muito dinheiro com o povo. Agora não tem governo. Qual o governo que nós temos? Nada. Está morrendo gente de fome, não dá serviço, tem 14 milhões de pessoas sem emprego, como a pessoa pode comer, beber, com filho? Não tem jeito”.
A conversa com dona Bárbara foi breve. A idosa, que é natural de Rio Pomba, teve 16 filhos com Torgamindo, dos quais oito ainda estão vivos. Ela estava um pouco sonolenta e fala com certa dificuldade. Mas, disse uma única frase que mostra, com bom humor, os anos de cumplicidade do casal: “Quem dera eu conseguisse dormir de dia. Já ele (Torgamindo) dorme demais e ronca muito também (risos)”.