Conheça a história de Alyrio Anthero da Silveira, o “Preto”
CARATINGA – “Saio logo cedo no meu carro/ Ninguém sabe o meu destino/Num aceno eu paro, abro a porta/ E entra alguém sempre bem-vindo/Elegante ou mal vestido/Velho, moço ou até menino/Fecha a porta, diz aonde vai/E tudo bem eu já tô indo”. A letra é de “O taxista”, do cantor Roberto Carlos e ilustra perfeitamente a rotina destes profissionais.
Praticamente todo mundo já andou de táxi. Os registros indicam que o serviço surgiu historicamente quando foram aplicadas taxas à sua utilização através de taxímetros. Contudo, o serviço de transportar pessoas numa grande cidade é quase tão antigo como a civilização. O primeiro serviço desse gênero apareceu com a invenção do riquexó — carro de duas rodas puxado por um só homem. Existia, embora em pouca abundância, nas principais cidades da Antiguidade, mas era exclusivo das elites, que possuíam escravos para puxá-los.
A profissão enfrenta o tempo e ainda sobrevive. Com o avanço da tecnologia e a mudança dos costumes da população, ser taxista não tem sido tarefa fácil. Mas, aos 78 anos de idade, Alyrio Anthero da Silveira, o “Preto”, ainda está em atividade. Ele completou 60 anos de profissão.
Em entrevista ao DIÁRIO, Alyrio falou um pouco sobre a sua história. Ele começou em novembro de 1954, com pouco mais de 16 anos de idade. “Era a Polícia Militar que concedia uma licença para a gente trabalhar dentro do município. Então, em 1956 eu tirei carteira. Eu tinha um irmão que era taxista”.
Na mesma praça, no mesmo ponto. Alyrio continua no mesmo local de 60 anos atrás. Na Praça Getúlio Vargas, ao lado do Fórum Desembargador Faria e Sousa. É com saudades que se lembra de seu primeiro carro, um Ford 29 e da frota que era composta por pelo menos 40 taxistas. “Essa família grande que nós tínhamos ai, todos faleceram. Eu comecei a trabalhar com o carro do meu irmão, depois comprei o meu e vim trocando de carro por ai a fora, até na atualidade, onde estou com um Siena 2013”.
O taxista lembra que naquela época era muito difícil passar veículos pelas ruas de Caratinga. Cenário muito diferente do atual. “Não existia trânsito. A gente às vezes ficava na frente, encostado no para-lama, doido para descer um carro aqui na Avenida Benedito Valadares destino à Olegário Maciel, porque achava bonito ver aquele carro rodar. Não tinha carro na cidade. Hoje existe carro demais, a gente até evita ficar encostado na frente do carro, por medo de ser atropelado. É completamente diferente, tudo diferente de quando eu comecei aqui há 60 anos”.
E não foi só o trânsito que evoluiu. Alyrio também observou o crescimento habitacional de Caratinga. Para ele, são evidentes as mudanças e os avanços na cidade. “Aqui não existia bairro, só existia o Esplanada e a Rua Santa Cruz. Mas, nessa profissão já rodei a cidade toda e vários municípios também, pois, depois comecei a fazer corrida fora. Eu me lembro de que o telefone nosso aqui era três números ainda, a telefonia automática veio depois. Não tinha 200 assinantes de telefone, não era nada subterrâneo, era tudo ar.”.
Se a cidade cresceu, a concorrência também não ficou atrás. Para o taxista, este é o principal motivo para que não haja mais clientes cativos, como antigamente. “A concorrência hoje faz com que a gente não tenha mais nenhum cliente fiel, muito pouco, quase nenhum. Está melhor para se trabalhar, mas, tem muito mais concorrência”.
Naquela época era comum transportar autoridades. Muitas delas passaram pelo táxi de Alyrio. E também não faltavam as conversas e as histórias compartilhadas por passageiros. “Sem dúvida nenhuma. A gente no momento fica sem lembrar qual porque são muitas autoridades que já pegaram carro da gente também. Eu tenho por hábito falar, porque as pessoas, em qualquer situação difícil que tiver, chama um táxi pra resolver. Então foram muitas situações difíceis”.
Com orgulho, ele fala que ao longo dos anos de profissão foi multado apenas uma vez e sempre procurou respeitar as leis. “Nunca capotei, nunca atropelei e não tenho nenhum processo jurídico ou ocorrência policial, graças a Deus. Antes de mexer com táxi, comecei a trabalhar com outras coisas, mas antes de 1954, eu era criança ainda, não tinha como eu ter outra profissão. Oficialmente taxista de 1956 pra cá, por falta de opção talvez. Mas, continuo até quando Deus permitir, no mesmo lugar. Sempre na tranquilidade, sempre fazendo a nossa parte”.
Com o crescimento da violência, principalmente, envolvendo taxistas, para Alyrio, todo cuidado ainda é pouco. Para ele é necessário cautela, para enfrentar os perigos das ruas. “Tenho muito medo. Nunca sofri nenhum tipo de violência, mas sempre fico alerta, de olho, em todos os sentidos”.
O táxi trouxe satisfação para “Preto”. Mas, ele afirma que a profissão não é uma alternativa para quem deseja ter uma vida bastante confortável. “Dá pra viver, mas para ganhar dinheiro para ficar bem de vida, não. Devido principalmente à concorrência, apesar, que hoje é melhor para se trabalhar do que antes”.
Questionado sobre o futuro da profissão, ele não foi otimista. Mas, apesar das incertezas, de cliente em cliente, na Praça está Alyrio, sempre pronto para a corrida e para uma conversa amiga. “Com o avançar das coisas, vejo o que é no momento, sem muito futuro pela frente, porque a concorrência é muito grande, todos os tipos de veículos vão aumentando a cada dia, de aluguel, seja moto ou carro e a também a facilidade de adquirir veículos. A pessoa fica sem opção para pegar táxi, mais difícil um pouco”.