A incerteza do perigo
Eliza Cristiane de Rezende Marques
Assim como as crianças, que no escuro tremem de medo e temem tudo, / nós, na claridade, às vezes temos receio de certas coisas / que não são mais terríveis do que aquelas que as crianças temem / no escuro e pensam que acontecerão a elas.
Lucrécio 99 a.C. – 55 a.C
Terrorismo. Palavra cuja etimologia derivada de terror, que por sua vez deriva do verbo em latim terrere, “fazer alguém tremer por meio de grande medo”. De acordo com Fernandes (2016) a palavra apareceu pela primeira vez no escrito Letters on a Regicide Peace (Cartas sobre uma paz regicida), do filósofo irlandês Edmund Burke, numa crítica sobre período da Revolução Francesa, conhecido como “Terror”, ou seja, o período em que os jacobinos estiveram no poder – de 1792 a 1794.
Já os relatos sobre o terrorismo não são recentes: temor, pânico, apreensão, amedrontamento tornaram-se sentimentos frequentes na história da humanidade, marcada por atos de violência cometidos tanto por aqueles que se sentem oprimidos, como por aqueles que estão em posição de superioridade: causar medo transformou-se num instrumento para se chegar ao poder.
Há uma descrição, no Novo Testamento, no livro de Mateus (Mt 2, 16), sobre o massacre dos inocentes de Belém por Herodes Magno que, ao se sentir que o nascimento do menino Jesus poderia ameaçar o seu governo e “Vendo-se iludido pelos magos, enfureceu-se Herodes grandemente, mandou matar todos os meninos de Belém e de todos os seus arredores, de dois anos para baixo, conforme o tempo do qual com precisão se informaria dos magos.” Assim, instaurou-se o terror em toda a região, pelo pavor de perder o poder.
Outra grande ação de terror na história da humanidade aconteceu após a Guerra Civil Americana, com a vitória dos Estados do Norte e o surgimento da Ku Klux Klan- uma seita fundada em 1866. Reunia veteranos confederados que haviam lutado pelos estados do Sul, o lado derrotado, na Guerra Civil Americana (1861-1865), transformando-se numa entidade de resistência à política liberal imposta. Assegurava, entre outras coisas, que a abolição da escravatura fosse mesmo cumprida. O objetivo dessa barbárie era a defesa da manutenção da supremacia branca no país. O grupo promovia atos de violência e intimidação contra os negros libertados.
O moderno “Oriente Médio” surgiu logo após a 2ª Guerra Mundial. E, ao longo da sua história, podemos apontar inúmeros atos terroristas, pois essa área, além de ser um grande centro de negócios do mundo, é um espaço geográfico estratégico. Países como Estados Unidos e a Ex-União Soviética não puderam mais ignorar a existência dessas potências e iniciaram uma corrida pela dominação do maior centro para captação de petróleo no mundo. E, assim, a guerra pelo poder instaurou-se misturada a outros conflitos, fazendo vítimas diariamente.
Holocausto. Um dos maiores registros de genocídio. A barbárie aconteceu na Alemanha Nazista. Em 1934, Hitler assume a Alemanha e cria o Terceiro Reich (império), proclamando-se Führer (líder, em alemão). Sua primeira medida, como ditador, foi a execução de milhares de judeus, comunistas, homossexuais e negros nos campos de concentração. Os relatos históricos apresentam detalhes de tais atrocidades em obras literárias, fotografias e relatórios do período.
11 de setembro de 2011. Foi tristemente marcado pelo ataque às torres do World Trade Center, em Nova Iorque. O ato terrorista matou milhares de civis e chocou o mundo, sendo reivindicado pelo grupo Al Qaeda, liderado, à época, por Osama Bin Laden. Esse grupo passou a ser o principal alvo de combate norte-americano no que se refere à política de segurança nacional. Além da Al Qaeda, temos outros grupos terroristas conhecido no mundo: ETA, Hamas, IRA, Jihad Islâmico e Supremacia Branca, Al Shabaaab, Taleban, Boko Haram… este último mereceria um tratado para descrever o terror e a violência cometidos contra mulheres e crianças.
No Brasil, iniciamos nossos relatos colonizatórios com o descobrimento ou o “terrorismo” dos portugueses que aqui chegaram, dizimando tribos inteiras de nativos para domínio do território. Seguimos a história e encontramos a escravidão dos negros que, ainda hoje, sofrem com resquícios da subserviência e da ignorância humana causada pelo preconceito e pela supremacia de um grupo étnico: terror e violência expressos de diferentes formas e contornos. Enfim, quantas histórias, quantos contextos, cenários diferenciados e o mesmo enredo. O terror manifesta-se, em pequenos gestos, às vezes, no silêncio, na ânsia de tudo dizer, na segregação, na exclusão, na discriminação, no desrespeito, no descuido, nos ataques físicos e, até mesmo, na privação do viver.
O que podemos dizer, então, sobre o terrorismo? Sabemos que suas ações partem do desejo de causar dor, sofrimento, punição a uma pessoa ou a um grupo de pessoas. Medo. Há um simbolismo no terrorismo e, na maioria das vezes, ele materializa-se em ato público, que causa transtornos para todos, pois quem não foi atingido, foi testemunha. Experimentamos a sensação de que vivemos em tempos de terror e temor. Tempos de guerra e de desordem. Viver hoje é viver momentos da incerteza do perigo. Sinto medo, temo, mas aquieto-me como o canto de Camões, pois “Nos perigos grandes, o temor/ É, muitas vezes, maior que o perigo”.
Eliza Cristiane de Rezende Marques é professora de Redação e Literatura da Escola “Prof. Jairo Grossi”, docente do Centro Universitário de Caratinga- UNEC, Pedagoga, graduada em Letras pela UNEC-MG. Especialista em Leitura e Produção de Textos pela PUC MG, Pós-graduada em Docência do Ensino Superior e Psicopedagogia UNEC-MG. Mestre em História Social pela USS-RJ e doutoranda em Geografia: Tratamento Espacial da Informação- PUC MG 2016.
Mais informações sobre a autora:
http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4166386D4