Dados se referem ao período de janeiro a abril de 2019 em Caratinga. A maioria dos casos está relacionado ataques por escorpião
CARATINGA- O Departamento de Epidemiologia e Estatística contabiliza o total de 1.480 acidentes por animais peçonhentos em Caratinga, considerando o período de 2010 a abril de 2019. Somente nos quatro primeiros meses deste ano foram registrados 45 casos, 30 deles relacionados a ataques por escorpião. No ano de 2018, a ocorrência foi de 216 acidentes.
De acordo com o Ministério da Saúde, os acidentes por animais peçonhentos e, em particular, os acidentes ofídicos foram incluídos, pela Organização Mundial da Saúde (OMS), na lista das doenças tropicais negligenciadas que acometem, na maioria dos casos, populações pobres que vivem em áreas rurais. O enfermeiro investigador epidemiológico, Paulo Henrique Nunes Borges orienta sobre os principais cuidados envolvendo estas ocorrências e medidas simples de prevenção.
OS ACIDENTES
Animais peçonhentos são reconhecidos como aqueles que produzem ou modificam algum veneno e possuem algum aparato para injetá-lo na sua presa ou predador. A Vigilância Epidemiológica de Caratinga tem como principais casos notificados os que envolvem espécies de aranha, cobra, escorpião, abelha e lagarta. “Embora tenham muitas espécies marinhas, de água doce, alguns mamíferos, a realidade nossa, o que chega mais para a vigilância são esses relatos”, explica Paulo.
Em ordem, segundo os dados estatísticos, historicamente, a maioria dos acidentes são provocados por picada de escorpião na região de Caratinga. “Em segundo lugar o grupo das serpentes, em terceiro as aranhas, abelhas e por último, os casos de lagarta. Tem uma espécie de lagarta que dependendo da quantidade que a pessoa tiver contato, há casos graves”.
O grande número de casos já registrados, conforme o enfermeiro epidemiológico é impulsionado por fatores ambientais e ambientes favoráveis à proliferação dos animais. Por isso a população deve ficar atenta, como esclarece. “Temos o aumento dos casos devido ao calor, o tempo mais quente, favorece a ocorrência dos escorpiões e também porque muitas vezes a população não cuida do quintal, coloca muito entulho, pedra, pau, tudo que possa servir de abrigo ao escorpião. Deixa lixo no quintal, o que atrai também baratas, que são a principal presa do escorpião”.
Além disso, o escorpião tem como característica peculiar a reprodução por partenogênese, ou seja, sem machos. “Os próprios óvulos dele dão origem a outros indivíduos, sem precisar da fecundação e reproduzem muito. As condições ambientais somadas ao tipo de reprodução dele facilita demais o aumento. E o animal é altamente resistente, podendo ficar dias, meses ou até anos sem comer, tomar água, é um artrópode muito resistente, o que favorece o aumento do número de casos”.
PRIMEIROS SOCORROS
Em caso de acidentes com animais peçonhentos, a recomendação é lavar o local da picada com água e sabão e não fazer aplicações na pele. A vítima deve ser levada imediatamente ao serviço de saúde para que possa receber o tratamento adequado em tempo. “Antigamente se tinha muitas crendices, cortar o local em cruz, colocar pasta de dente, sugar o local. A ocorrência é uma emergência médica. O correto é em caso de ser picado por qualquer animal peçonhento, ir direto para a UPA, que tem o soro específico. Importante falar que a faixa etária de risco são as crianças e os idosos, então já é imediatamente aplicado o soro. Não pode deixar agravar porque senão é difícil salvar a vida da pessoa, o efeito do veneno é sistêmico. Quando é adulto, às vezes primeiramente fica em observação e é aplicado o bloqueio anestésico, utilizado a lidocaína para combater a dor”.
A identificação do animal que provocou o ataque é fundamental para o tratamento, no entanto, na maioria das vezes, a vítima não consegue capturar o animal, como afirma Paulo. “O correto seria levar o animal responsável pelo acidente, mas como muitas vezes isso não é possível, a maioria das vezes o médico tem que se orientar pelo relato, pelos sintomas”.
MEDIDAS DE SEGURANÇA
Tendo em vista o período de colheita nas áreas rurais, é importante que os trabalhadores e moradores destas localidades fiquem atentos a algumas medidas de segurança. “Como estamos na época que pessoal vai muito apanhar café, a primeira coisa que frisamos e que muitas vezes quando o trabalhador não tem condições, o empregador por lei é obrigado a fornecer, são os equipamentos de proteção individual: botas, perneiras (indo da coxa até a perna), e luvas de raspa de couro. Porque a maioria dos ataques, ocorre nos membros inferiores, muitas vezes a pessoa está caminhando e a cobra ou o escorpião pica no pé ou na perna, em segundo lugar no antebraço e a mão. Então, tem, que ter equipamentos de proteção que resguardem essas áreas”.
Além deste cuidado é importante o reconhecimento do ambiente, antes de qualquer intervenção. “Na colheita, quando for em baixo do pé de café, tem que ter uma vara de pelo menos um metro de comprimento, para antes de entrar em baixo do cafezal bater nos galhos e envolta, porque às vezes a cobra pode estar também na copa, escondida nas folhas em volta do tronco. Fazer uma checagem no local. Muitas vezes a pessoa vai descansar, senta ali perto, não vê que tem o animal e pode ocorrer acidente”.
Se tratando de área urbana ou rural, o alerta também vale para o entorno das residências. “Com relação aos quintais, limpeza total, não deixar material orgânico; tudo que não for utilizar, entulho, desfazer, deixar o local mais limpo. Não proporcionar condições ambientais de reprodução, porque senão vai cultivar, dar chance ao animal se reproduzir e fixar no peridomicílio. Em saúde, a melhor coisa se chama prevenção”.