Trabalho de campo, teatro, vídeo documentário e pesquisa científica de autores literários que empregaram o tema meio ambiente em suas obras
CARATINGA – Professores se tornam professores quando percebem que ser professor não é professar linhas, métodos ou didáticas. Ser professor é abrir-se ao outro, às relações, é ter uma disposição, uma disponibilidade para ser atravessado pelo mundo. É deixar de ser a si mesmo e ser um outro a todo distante. Com estas palavras o cerimonial abriu o 2º Seminário de Letras 2014, cujo tema “Educação Ambiental” mobilizou alunos de vários períodos neste segundo semestre letivo em pesquisas didáticas e de campo.
A Política Nacional de Educação Ambiental estabelecida pela lei número 9.795 de 1999 prevê em seu artigo 1º que “entendem-se por educação ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade”.
A coordenadora do curso de Letras do Centro Universitário de Caratinga (UNEC), professora Cláudia Cardoso, abriu os trabalhos dando boas vindas aos alunos e convidados que compareceram para prestigiar o evento, como a diretora da Escola Estadual Feliciano Miguel Abdalla, Fabrícia Ferreira do Amaral e a supervisora pedagógica da Escola Estadual Josefina Vieira, Amanda Kelly Soares, cujas escolas foram cenários de dois trabalhos desenvolvidos pelos alunos do 4º e 2º períodos.
Professora Cláudia destacou também a importância da educação ambiental nas escolas: “A educação ambiental faz parte dos temas transversais devendo ser trabalhada em todas as disciplinas que compõem os anos finais do Ensino Fundamental, etapa da Educação Básica. Portanto é pertinente que os cursos de Licenciatura ofereçam a seus graduandos oportunidades para trabalhar o tema de forma a contribuir com sua formação, bem como de seus futuros alunos no que se refere à preservação do meio ambiente. Neste sentido, durante esse semestre letivo as turmas do curso de Letras do UNEC trabalharam a educação ambiental, na perspectiva da transdisciplinaridade”.
A estudante Stephanie Aparecida trabalhou a educação ambiental durante a Semana Literária na Escola Estadual Josefina Vieira com o apoio da professora de Língua Portuguesa, Simone Sousa Caperucci, que conseguiu trazer o grupo teatral para apresentar a peça “O Mágico de Oz” na abertura do evento. Na sequência, aconteceu também uma palestra com o professor Alex Cardoso Pereira, graduado em Engenharia Ambiental e Sanitária, que abordou “Reflexões sobre os paradigmas da educação ambiental”.
“Dizem muito por aí em salvar o planeta, quem precisa ser salvo somos nós, seres humanos, principalmente com nossa mudança de hábitos”, alertou o palestrante.
As escolas ainda trabalham a educação como tema transversal, ou seja, fora da grade curricular e um dos trabalhos apresentado durante o seminário tratou justamente desta questão. Além de uma visita de campo que os alunos do 2º período fizeram à Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Feliciano Miguel Abdalla, que gerou artigos individuais e um banner de apresentação, sob o tema “Educação Ambiental: Tema Transversal x Disciplina Isolada” o graduando Willian Ribeiro produziu um vídeo documentário, seguido de um jornal impresso, compartilhando suas experiências durante a fase de captação de informações, entrevistas in loco, como forma de avaliar a eficiência do ensinamento da educação ambiental dentro de sala de aula como tema transversal. O foco do trabalho aconteceu na Escola Estadual Feliciano Miguel Abdalla, localizada no Bairro Floresta, a partir do Projeto “Nasce uma Escola para Fazer História”, que contou a trajetória da criação do educandário desde a desvinculação da Escola Estadual Princesa Isabel e a vida do homem escolhido para dar nome à escola.
“A educação ambiental enquanto área de ensino se torna mais fácil de ser trabalhada quando se tem o apoio da família. Geralmente nas escolas particulares temos uma cobrança maior da família para com os alunos. Numa escola pública, como um todo, a gente não tem este apoio da família, o que dificulta as abordagens e os impactos entre professor e aluno para tentar mudar o perfil deste aluno no que se refere à consciência ambiental. É importante trabalhar a Educação Ambiental desde a base, mas não se consegue alcançar resultados tendo a Educação Ambiental como algo opcional dentro das escolas; a Educação Ambiental deve ser uma premissa básica de ensino, seja numa escola pública ou particular”, analisa o professor Rafael Luís Neves, que leciona Ciências e Biologia em duas realidades diferentes, em uma escola da rede estadual e em uma escola da rede particular de ensino, e foi um dos entrevistados do vídeo documentário.
“A Educação Ambiental é extremamente relevante no ambiente escolar, principalmente para a formação de cidadãos mais conscientes sobre os problemas que o meio ambiente enfrenta na atualidade e de como é importante uma nova postura frente a esses problemas. Independentemente de estar como tema transversal e não como disciplina da grade curricular nas escolas, é pertinente que se fale mais e mais sobre este assunto aos estudantes, sem se preocupar, no momento, tanto com critérios pedagógicos, porque definitivamente são esses estudantes que formam a nova geração de cidadãos que podem ser aliados ou adversários do ambiente em que vivem e o papel da escola é fundamental para estabelecer qual lado vencerá”, concluiu em seu trabalho o aluno, autor do vídeo.
As estudantes Ana Luiza Silva Mafra e Rosely de Souza Fioravante, do 6º período, encerraram as apresentações juntamente com o professor José Geraldo Batista apresentando uma pesquisa científica sobre autores literários que empregaram o tema meio ambiente em suas obras, como Carlos Drummond de Andrade e Rubem Braga.
O reitor, professor Antônio Fonseca da Silva, que leciona há vários anos na área da Língua Portuguesa como linguista experiente e que tem um apreço todo particular pelo curso de Letras, no qual também é docente, fez seu pronunciamento no fechamento do evento, elogiando bastante as apresentações. “São apresentações como as que eu assisti aqui que nos fazem acreditar que o potencial do “ser professor” sobrepõe quaisquer obstáculos e a docência deve ser entendida muito mais do que uma mera profissão, mas como a mãe de todas as profissões”, declarou.