Sem o mínimo para qualidade de vida e sobrevivência, ele foi socorrido pelos bombeiros. Casa estava tomada pelo lixo e mau cheiro
CARATINGA – Uma casa simples, com poucos cômodos. Muito lixo espalhado e comidas feitas há dias e que ainda estavam sobre o fogão. O mau cheiro era perceptível ainda da rua. Essa é a situação enfrentada por Hélcio Alves da Silva, de 52 anos, morador da Rua Coronel Chiquinho, Bairro Esperança.
Hélcio vive em condições sub-humanas sem o mínimo necessário para a qualidade de vida e sobrevivência. Ele sofre quedas constantemente, em decorrência de uma doença que não foi tratada e que
piora a sua situação. E foi mais após mais um desses acidentes que ele foi encontrado por um vizinho, na tarde de ontem, em um cenário completamente desumano.
Agnaldo Bezerra da Silva encontrou Hélcio com alguns ferimentos, deitado em uma cama. Ele acionou o Centro de Referência e Assistência Social (Cras) e os bombeiros, que socorreram o homem, encaminhando-lhe ao Pronto Atendimento Microrregional (PAM). Acredita-se que a última queda de Hélcio tenha ocorrida há pelo menos três dias, mas ele não costuma receber visitas e tem o costume de se isolar.
VIDA SOLITÁRIA
Agnaldo relata que já conhecia Hélcio pelo seu trabalho de coleta de material e quando se tornaram vizinhos, conheceu um pouco mais de sua história. “O Hélcio tem um problema de epilepsia, então fica caindo o tempo todo. Chamei o pessoal do posto para visitar e fizeram o socorro dele, por sorte não morreu e o tiramos da situação que estava. O maior problema dele, o pior sintoma é a fome e aquelas roupas jogadas pelo chão, sacola plástica e também as comidas azedas, muita coisa ruim”, lamenta.
O vizinho foi o responsável por dar voz ao clamor de Hélcio convencendo-lhe a aceitar ajuda e se diz
aliviado com a sua remoção para que seja submetido a cuidados médicos. “Falei com ele: ‘Hélcio, se você ficar mais nessa situação vai causar uma infecção pior nesse machucado, vai dar bicheira, você vai morrer na cama se ninguém tirar você daí’. Assim, ele quis ir para o tratamento, meio contrariado, mas quis. Agora, creio que ele vai estar em boas mãos”.
Agnaldo afirma que Hélcio não tinha condições básicas de higiene e que sua situação era preocupante. “Aqui ele ficava toda a vida sozinho e a porta só selada. Infelizmente condição nada boa, de longe dá para sentir o cheiro do suor do Hélcio, roupa toda suja, sem tomar banho. Já estava até doente. Ele tem um familiar aqui, mas que não dá atenção”.
ASSISTÊNCIA
Segundo Edivânia Batista Carlos, coordenadora do Cras Santa Cruz, a situação de Hélcio é delicada e já vem sendo acompanhada há algum tempo. “Ele é um acumulador de material reciclável, a casa dele fica nesse estado realmente deplorável. Já estávamos fazendo um trabalho com ele de ressocialização, dele conviver com outras pessoas, sair um pouco desse ambiente que convive, mas infelizmente nós não tivemos êxito no trabalho com ele. Nessa situação que aconteceu que ele veio a cair e se machucar, realmente está bem debilitado”.
Para a equipe do Cras, está bastante evidente que Hélcio não pode mais, nestas condições, permanecer na residência. Por isso, a intenção é propor uma ação conjunta com os órgãos responsáveis para conseguir uma moradia provisória para ele. “Agora o nosso procedimento vai ser mesmo de ter que levá-lo para algum lugar, outro espaço que seja institucionalizado pelo governo por período determinado, para ele se recuperar da saúde. Vamos ver se nós conseguimos proporcionar uma condição de vida melhor para ele. Agora realmente não é viável que ele retorne para essa casa na condição que está. Se ele retornar pra cá, sem um acompanhamento vai permanecer da mesma forma e realmente não é esse o objetivo”.
Apesar das tentativas de ajudar Hélcio, o homem nunca aceitou. Com esse episódio, o Cras pretende tentar novamente ofertar os serviços básicos de saúde e acompanhamento. “Nós propusemos um acompanhamento individualizado com ele, com psicólogo, assistente social, solicitamos as documentações civil básica, que ele não possuía, como certidão de nascimento, já estávamos providenciando o RG dele, só que por ele não aceitar acompanhamento, não conseguimos obter êxito. Estávamos conseguindo uma aproximação com ele”.
Hélcio também costuma ficar nas imediações da Praça Cesário Alvim e já foi também abordado por lá, mas, sempre apresentou resistência à ajuda. “Novamente vamos propor um plano de intervenção, de acompanhamento individual, para tentarmos tirá-lo desta situação de vulnerabilidade que está atravessando no momento. Esperamos que ele possa agora aderir ao serviço daqui pra frente. Vamos retirá-lo por enquanto, uma vez que a gente consiga um local para colocá-lo até que ele se recupere e esteja realmente apto para ter uma condição de vida digna”.
A vida solitária também contribuiu para as más condições de vida de Hélcio. Segundo Edivânia, outro passo será localizar familiares dele. “Ele nunca falou nome de familiar, nunca dava essa abertura e a gente não sabe o motivo. Mas, agora ele chegou a relatar para o vizinho o nome de alguns familiares, um até mesmo reside em Caratinga, vamos tentar localizá-lo. A família é o principal ente que tem que ser responsabilizado por um indivíduo”.