“Reflexões: Pensamentos difusos e dispersos”
Professor Noé Neto lança livro e textos apontam que nada é fixo ou imutável, mas sim disperso
CARATINGA – A vida tem muitas facetas e as pessoas também as têm. Noé Comemorável de Oliveira Neto tem suas nuances. Ele se divide entre a razão e a emoção. A razão está em sua profissão, é professor de Física e Matemática. A emoção está em seus textos. E todas essas nuances poderão ser conferidas no livro “Reflexões: Pensamentos difusos e dispersos”, que será lançado às 19h do dia 13 de fevereiro, na Casa Ziraldo de Cultura. Conforme indica o autor, “textos apontam que nada é fixo ou imutável, mas sim disperso”.
Noé Neto é mestre em ensino de Física pela Universidade Federal de Viçosa (2015), pós-graduado em ensino de Física pelo Centro Universitário de Caratinga (2006), possui como graduação Licenciatura Plena em Física pelo Centro Universitário de Caratinga (UNEC) 2005 e Licenciatura Plena em Matemática pelo Centro Universitário de Jales (UNIJALES) 2018. Quando as pessoas tomam conhecimento de sua formação, ficam intrigadas com hábito que Noé Neto tem de escrever. “Mas entendo perfeitamente, pois no Brasil é comum as pessoas se definirem como “sou de exatas” ou “sou de linguagem”, porém, eu gosto de rememorar o conceito passado de ciências e filosofia que engloba tudo que requer pensamento, independente da área de concentração”, explica Noé Neto.
O lado escritor de Noé Neto é atestado da seguinte forma: É membro correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni e membro titular da Academia Caratinguense de Letras, possui diversas publicações em jornais de notícias, dentre eles, o Diário de Caratinga, além de contos, crônicas e poemas, publicados em coletâneas literárias de diversas editoras. É organizador e coautor dos livros ‘Metafísica Literária’, lançado em 2016; ‘Versificando a Física volumes 1, 2 e 3’, lançados respectivamente em 2017, 2018 e 2019 e ‘Ecos da Alma’, lançado em 2018.
Para tentar entendermos o propósito desta obra, entrevistamos Noé Neto, mas parece que seguindo o ‘Velho Guerreiro’, “Reflexões: Pensamentos difusos e dispersos” veio para mais nos confundir do que nos explicar.
Professor, o que vamos encontrar em “Reflexões: Pensamentos difusos e dispersos”?
Esse livro traz 40 textos que em linguagem poética (poesias, poemas, soneto, acróstico), tratam de vários temas cotidianos, tais como: vida e morte, saudade e presença, lugares e pessoas, política e fé. Enfim, é um livro de assuntos diversos e que são vivenciados diariamente por todos nós, portanto, imagino que o leitor vai se identificar na leitura, mesmo que o fato que ele esteja vivendo seja com personalidade e personagens diferentes dos ali relatados, haverá sempre um texto que transmite uma mensagem para aquele momento.
Nos textos, o senhor homenageia pessoas marcantes em sua existência e também destaca fatos políticos. Em relação as pessoas, existe a clareza; mas quanto aos fatos, há algo turvo. Poderia nos explicar essa diferença?
Em minha opinião as pessoas citadas trazem inquestionavelmente histórias límpidas, como é o caso de Maria Coutinho e Miriam Mangelli, duas das personalidades caratinguenses homenageadas no livro. Em contrapartida, opiniões políticas sempre podem ser vistas de maneiras distintas que dependem das nossas vivências (fome x fatura, por exemplo) e claro, da nossa formação intelectual, ética e moral. Há ainda um ponto importante sobre esses fatos que é a História, ela nunca mente, mas muitas vezes demora um tempo para se apresentar como realmente é. Quando digo desse olhar turvo, falo de mim mesmo, da minha tendência a ver as coisas sobre meu ponto de vista e esse por sua vez poderá ser revisto ou até mesmo reforçado por fatos históricos futuramente. É como diz aquele velho ditado: “quem viver, verá! ”
O senhor é formado em Física, mas sempre teve muita ligação com a criação de textos. As pessoas estranham quando sabem de sua formação?
Esse fato é muito interessante, pois são dois estranhamentos:
⦁ Quem me conhece como professor de Física/Matemática estranha quando descobre que eu gosto de escrever;
⦁ Quem conhece as escritas estranha minha formação acadêmica.
Mas entendo perfeitamente, pois no Brasil é comum as pessoas se definirem como “sou de exatas” ou “sou de linguagem”, porém, eu gosto de rememorar o conceito passado de ciências e filosofia que engloba tudo que requer pensamento, independente da área de concentração. Acredito que todos nós, somos cientista em busca de desvendar algo, podemos tomar um caminho, o dos números por exemplo, mas nada impede de arriscarmos por vários. Porém gosto sempre de destacar que não me considero escritor, apenas tento fazer desse meio de comunicação mais um elo na arte de ser professor.
O ato de escrever é algo muito especial. Por meio da escrita, podemos refletir, organizar ideias e transmiti-las com mais clareza, o que é essencial no trabalho e na vida pessoal. Assim que se sente ao escrever?
Exatamente! É como disse anteriormente, escritor é aquele que domina essa arte e temos os melhores: Cora Coralina, Guimarães Rosa, Ariano, Clarice…
Contudo, a escrita é uma forma de comunicação fantástica e que não pode estar restrita a eles, pois ela coloca no papel o sentimento do autor, mas reflete também o sentimento do leitor. O mesmo texto, lido pela mesma pessoa causa sentimentos diferentes em ocasiões distintas e isso é fantástico.
Além disso, sou muito do papel, gosto de escrever, gosto de ler no papel, riscar, apagar… ainda uso agenda de papel em meio a essa “era digital”, pois escrever me dá clareza no que quero e preciso fazer.
O processo de escrever é também uma forma de autoconhecimento, por meio da exploração, compreensão e expressão das nossas formas de pensar e sentir. Em seus textos podemos conhecer um pouco mais de Noé Neto?
Não tenho dúvidas que sim. Escrevo para mim primeiramente, só consigo colocar no papel o que realmente estou sentindo. Por vezes de forma disfarçada, mas quem fizer uma leitura atenta verá. E no livro “Reflexões: Pensamentos difusos e dispersos” especificamente isso ficará ainda mais claro, pois nele falo de sentimentos, falo dos lugares que amo, falo das pessoas que admiro, ou seja, é quase um retrato falado em estrofes.
Mas também quem escreve pode criar um ‘universo paralelo’. O senhor consegue escrever não sendo tão pessoal?
Tenho muita dificuldade. Gosto de escrever sobre a vivência, sobre o cotidiano, ainda que com recursos que dificultem a exposição do mesmo. Quem ler por exemplo o texto Deusa Grega neste livro verá a presença mitológica de uma mulher forjada na mentalidade e crença daquele povo, mas a personagem que inspirou o texto existe e fez parte do meu viver.
Não adianta me pedir “escreva sobre tal tema” se não for do meu dia a dia não sai nada. Sempre digo que tenho enorme admiração por quem vai bem na redação do Enem por exemplo, pois não é o tipo de texto que eu teria facilidade.
Voltando a sua formação, Física é uma ciência exata, mas a literatura é a maneira mais agradável de ignorar a vida, como disse Fernando Pessoa. O que lhe dar mais satisfação, a Física ou a literatura? Ou a junção das duas?
São prazeres distintos. A Física me dá uma satisfação profissional. Ver o aluno entender o fenômeno e explicar um fato do cotidiano dele não tem preço. Assistir o olho brilhando quando entende o que um número que veio do resultado de um cálculo verdadeiramente representa é emocionante, me realiza como professor.
Escrever é extravasar. É uma realização pessoal é querer compartilhar com todos a alegria de sinto ou querer fazer do papel curativo para a dor que assola. A satisfação de ver Reflexões: Pensamentos difusos e dispersos saindo da editora é do tipo “meus pensamentos vão se espalhar por cantos onde nunca estarei”.
Ambas me dão uma enorme alegria e nenhuma é mais importante que a outra, mas são alegrias, incertezas, esforços e satisfações diferentes.
O senhor mesmo disse que nada nessa obra é fixo ou imutável, mas sim disperso. Ou seja, assim como o Chacrinha, especificamente no caso do livro e não em sala de aula, o senhor veio para confundir e não para explicar?
Quem sabe?
Como o livro trata de sentimentos a confusão pode ser a base de toda a explicação. Afinal, sentimentos são confusos, mas explicam e exemplificam quem somos. A resposta para essa questão provavelmente será encontrada ao final da leitura do livro (ou não).
A única certeza que deixo aqui é meu sentimento de gratidão ao Diário de Caratinga pelo apoio de sempre na publicação dos textos, na divulgação das obras e no incentivo à cultura e meu convite aos leitores para que leiam o livro, façam suas considerações e críticas, mas não deixem de refletir sobre a importância de difundir e dispersar bons pensamentos.